Relatório acusa empresas de conivência com trabalho infantil
A organização de direitos humanos Anistia Internacional
acusou as empresas Apple, Samsung e Sony, entre outras, de falhar em
identificar o uso de trabalho infantil na produção dos minerais usados em seus
aparelhos.
Em um relatório sobre a mineração de cobalto na República
Democrática do Congo, a Anistia afirma ter encontrado crianças de até 7 anos de
idade trabalhando em condições perigosas.
O cobalto é componente vital para as baterias de íon-lítio.
As empresas afirmaram que seguem política de tolerância zero em relação a
trabalho infantil.
"Companhias cujo lucro global é de US$ 125 bilhões não
podem realmente alegar incapacidade de verificar de onde vêm suas
matérias-primas essenciais", disse Mark Dummett, pesquisador nas áreas de
negócios e direitos humanos da Anistia.
MORTES
A República Democrática do Congo responde por 50% ou mais do
cobalto produzido no planeta.
Mineradores trabalhando por longo período neste segmento da
extração mineral enfrentam problemas de saúde e risco de acidentes fatais,
afirma a Anistia.
A organização diz que ao menos 80 mineiros morreram no
subsolo congolês entre setembro de 2014 e dezembro de 2015.
A Anistia também entrevistou crianças que trabalhariam nas
minas do país.
Paul, órfão de 14 anos de idade, começou a minerar aos 12
anos. "Eu fiquei até 24 horas nos túneis. Chegava de manhã e só saía na
outra manhã. Tinha que ir ao banheiro nos túneis. Minha mãe adotiva planejava
me mandar para a escola, mas meu pai adotivo era contra, e ele me fez trabalhar
nas minas", contou o menino à Anistia.
A Unicef estima que há cerca de 40 mil crianças trabalhando
em minas no sul da República Democrática do Congo.
'TOLERÂNCIA ZERO'
Em resposta ao relatório, a Apple afirmou que o
"trabalho infantil não é tolerado em nossa cadeia de fornecedores e
estamos orgulhosos de liderar a indústria em salvaguardas pioneiras (contra o
trabalho infantil)".
A empresa afirmou, ainda, conduzir rigorosas auditorias
junto a fornecedores e que qualquer um que empregue crianças é forçado a retornar
o menor a sua casa, financiar a educação da vítima em escola escolhida pela
família, continuar a pagar salários e oferecer um emprego quando o jovem tem
idade para trabalhar.
A Samsung também afirmou ter "tolerância zero" em
relação a trabalho infantil e que, assim como a Apple, vem conduzindo
auditorias regulares junto a seus fornecedores.
"Se houver violação e trabalho infantil for encontrado,
os contratos com fornecedores serão imediatamente encerrados", declarou a
empresa.
A Sony comentou: "Estamos trabalhando com nossos
fornecedores para enfrentar questões ligadas a direitos humanos e condições de
trabalho em locais de produção, assim como na aquisição de minerais e outras
matérias primas".
'PARADOXO'
O relatório da Anistia rastreou o comércio de cobalto a
partir de áreas onde há trabalho infantil. O mineral é comprado por
intermediários diretamente das minas e vendido à empresa Congo Dongfang Mining,
subsidiária da gigante chinesa Zhejiang Huayou Cobalt Ltd.
A Anistia afirma ter entrado em contato com 16
multinacionais listadas como clientes de fabricantes de baterias que têm como
fornecedor de cobalto a Huayou Cobalt.
Uma empresa admitiu a conexão, enquanto outras quatro
reconheceram serem incapazes de dizer com certeza qual seria a fonte do cobalto
usado por elas.
Outras cinco companhias negaram ligações comerciais com a
Huayou Cobalt, embora apareçam como clientes nas listas encontradas em
documentos da gigante chinesa.
Seis empresas afirmaram estar investigando o caso.
"É um paradoxo que na era digital algumas das mais
ricas e inovativas empresas do mundo, capazes de levar ao mercado aparelhos
incrivelmente sofisticados, não consigam mostrar de onde vêm suas
matérias-primas", criticou Emmanuel Umpula, diretor da Africa Resources
Watch, organização que colaborou com a Anistia no relatório. Fonte: @ZR, G1- BBC-19/01/2016
Marcadores: acidente, exploração de trabalho

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