QUATRO JOVENS FORAM INTOXICADOS E MORTOS EM BMW NA RODOVIÁRIA DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ
Quatro jovens foram
encontrados sem vida dentro de uma BMW no estacionamento do Terminal Rodoviário
de Balneário Camboriú, em uma ocorrência que mobilizou equipes de resgate e
serviços de emergência da cidade. A maior suspeita das autoridades é morte por
intoxicação gasosa.
A Central de Operações do
Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC) foi acionada por volta das
7h30 desse 1º de janeiro para prestar apoio às unidades do Samu, que estavam
lidando com quatro pessoas em parada cardiorrespiratória.
Aos poucos a polícia
começa a esclarecer as circunstâncias envolvendo a morte de quatro jovens em Balneário
Camboriú na manhã desta segunda-feira (1º). O relato de uma mulher que estava
com o grupo aponta que as vítimas, de 16, 19, 21 e 24 anos, relataram tontura,
enjoo e até sangramento pouco antes de perderem a vida.
A mulher contou
ter vindo de Brasília para encontrar o namorado, que estava na BMW. Era por volta
das 3h15min quando o grupo chegou para buscá-la já relatando um mal-estar. Como
o trânsito estava intenso para conseguir ir a Florianópolis, onde moravam,
teriam decidido ficar no estacionamento da rodoviária até que se sentissem
melhor.
Segundo relato da
mulher à Polícia Militar, o carro teria ficado com o ar-condicionado ligado e
os quatro jovens dentro. Ela teria optado por ficar do lado de fora, mas por
três vezes teria ido ao veículo ver se o namorado e os amigos tinham acordado.
Por volta das 7h, a mulher percebeu que o companheiro estava sangrando pela boca.
Foi quando pediu ajuda para chamar o Samu.
A equipe de
socorro teria encontrado os quatro em parada cardiorrespiratória. Pessoas que
estavam no local ajudaram a colocar as vítimas na calçada e por 40 minutos
vários profissionais da saúde tentaram reanimar os jovens, mas sem sucesso.
Todos morreram antes de serem levados ao hospital. Exames devem apontar de fato
o que provocou os óbitos.
PERÍCIA
Uma perícia deve
apontar a causa dos óbitos.
O carro passou
por perícia e uma análise preliminar teria indicando uma perfuração no veículo
jogando monóxido de carbono para dentro da BMW, segundo a Polícia Civil. A PM
disse que não encontrou drogas ou bebida alcoólica no carro e acredita em morte
acidental.
FAMILIARES
Familiares das
vítimas estiveram na delegacia durante a manhã, mas só devem ser ouvidos ao
longo da semana. Segundo o delegado Bruno Effori, estão todos bastante abalados
pela morte prematura dos jovens e que ainda é incógnita às autoridades. Apenas uma
mulher, namorada de Gustavo, seria ouvida nesta tarde. Isso porque ela
encontrou o companheiro e os amigos passando mal e chamou o socorro. O grupo
teria reclamado para a jovem de tontura, enjoo e um deles chegou a sangrar pela
boca.
INVESTIGAÇÃO
A principal linha
de investigação aponta que os jovens podem ter morrido por intoxicação de
monóxido de carbono, provocada por uma perfuração encontrada no veículo. A
perícia tentará responder se era um defeito de fabricação ou se foi provocado.
Segundo o delegado a BMW havia passado por uma customização no sistema de escapamento,
na parte externa. A informação foi repassada pela família dos jovens. A
modificação era para aumentar o ronco do motor.
SISTEMA DE
ESCAPAMENTO FOI ADULTERADO
O sistema de
escapamento da BMW havia sido adulterado, o que provocou o vazamento do gás
tóxico para o interior do veículo. O anúncio foi feito em entrevista coletiva
concedida hoje após análise da Polícia Científica.
Os mecânicos
responsáveis serão ouvidos pela polícia, que acredita que a customização foi
feita de forma "caseira". No momento, trabalha-se com a hipótese de
indiciamento por homicídio culposo.
A montadora não
tem qualquer responsabilidade, concluiu a polícia. A modificação foi feita posteriormente,
em uma oficina que não tem relação com a BMW.
MEDIÇÕES
DETECTARAM
Medições
detectaram concentrações de, no mínimo, 1.000 ppm (partículas por milhão) de
monóxido de carbono dentro do carro. Para se ter uma ideia, a leitura em um
carro sem adulteração é de 20 a 30 ppm, direto na saída do escapamento. Essa
concentração, de 1.000 ppm, é suficiente para provocar inconsciência e levar à
morte em um período entre uma e duas horas.
A modificação que
trocou o catalizador do escapamento por um downpipe foi feita em Aparecida de
Goiânia, em Goiás. O downpipe proporciona maior vazão do fluxo de gases,
aumentando a rotação da turbina e assim conseguindo gerar mais potência para o
carro.
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO
POLICIAL
A Polícia Científica
de Santa Catarina concluiu que os quatro jovens encontrados mortos no dia 1º de
janeiro, no interior de um carro na rodoviária do Balneário de Camboriú, foram
intoxicados por monóxido de carbono, emitido ao interior do veículo por meio do
ar-condicionado.
A falha decorreu
de modificações feitas em uma peça do escapamento, com o objetivo de dar maior
potência ao motor.
As investigações
iniciais apontaram parada cardiorrespiratória, e as suspeitas – confirmadas pela
perícia – eram de que, provavelmente, eles teriam se intoxicado com esse gás
incolor e inodoro altamente letal, quando inalado em grande quantidade.
"As provas
periciais demonstraram que a causa da morte das quatro vítimas se deu por asfixia
por monóxido de carbono decorrente das alterações irregulares no escapamento”,
resumiu a perita geral da Polícia Científica de Santa Catarina.
LAUDO PERICIAL
Alguns detalhes
do laudo pericial e do inquérito, apresentados na sexta-feira (12 de janeiro de
2024) pela Polícia Civil do estado. Segundo a perícia as amostras de sangue e urina
das vítimas não detectaram qualquer presença de drogas, medicamentos ou
venenos.
Já as análises de
presença de monóxido de carbono constataram saturação acima de 50% em três das
vítimas e entre 49% e 50% na quarta vítima. Em outra frente, foi investigada a
origem desse monóxido de carbono, gás bastante presente no ar, gerado pela queima
de material orgânico.
“O problema da
intoxicação ocorre quando estamos em ambiente fechado, confinados, em que ele
atinge concentração superior à do oxigênio. Ele tem uma afinidade 200 vezes maior
do que o oxigênio, quando em nosso sangue. Então rapidamente nossa hemoglobina
troca o oxigênio por ele e o entrega aos nossos órgãos, e a morte ocorre lentamente”,
explicou a perita Bruna Boff.
ORIGEM DO GÁS
Coube ao perito
Luiz Gabriel Alves explicar a origem do gás que matou os jovens. Segundo ele, o
veículo havia passado por algumas modificações, visando ampliar a potência e o
ruído do motor. Uma das peças alteradas foi o chamado downpipe – parte do
sistema de escapamento que se conecta com a saída do turbo do catalisador.
“A tubulação foi
substituída, desviando o caminho do escape, sem que passasse pelos abafadores.
Isso gera maior ruído e ganho de potência. Identificamos um rompimento próximo
à grade que segue para o ar-condicionado”, explicou o perito.
A ausência de
fixação ou solda no suporte do downpipe resultou na sucção do gás pelo
ar-condicionado, transformando o interior do veículo em uma “atmosfera tóxica”,
conforme mostrou o medidor de teor de gases utilizado pelos peritos.
Segundo Alves, a
quantidade de gás emitido para a parte interna, quando o ar-condicionado estava
ligado, era tão grande que superava o limite do medidor utilizado para a análise
pericial. “Com o ar desligado, o resultado ficou em zero”, acrescentou ao
explicar que essa modificação na peça não é permitida.
Responsável pelo
inquérito policial do caso, o delegado Vicente Soares disse que, diante desse
contexto, o foco da investigação será agora a oficina responsável pela
modificação na peça. A alteração, segundo ele, foi feita na cidade de Aparecida
de Goiânia, em Goiás.
“O proprietário
da oficina relatou que o downpipe foi, de fato, manufaturado por eles, e que
ela não foi comprada da indústria. Portanto é caseira. Os mecânicos serão ouvidos
para a conclusão do inquérito policial, e os envolvidos na montagem do equipamento
podem ser responsabilizados por homicídio culposo”, informou o delegado. Ele
não informou o nome da mecânica que será foco das próximas investigações.
ÚLTIMOS MOMENTOS
O delegado Soares
explicou como foram os últimos momentos das vítimas. No dia 31, quando a caminho
de Camboriú, o veículo apresentou alguns engasgos. Como o problema parecia
resolvido, os jovens deram sequência à viagem.
Após a virada de ano,
todos começaram a passar mal, e acreditavam se tratar de intoxicação alimentar,
causada pela ingestão de cachorros quentes. “Após a virada, eles foram à
rodoviária para buscar uma amiga, às 3h15 [do dia 1º]. Chegaram ao local
sentindo enjoo por causa do monóxido e resolveram então ficar no carro para
tentarem se recuperar”, disse o delegado.
A amiga recém-chegada
ficou do lado de fora, achando que todos estavam apenas dormindo no interior do
veículo que estava com o ar-condicionado ligado. Na sequência, percebeu que a
situação era grave, quando não conseguiu despertá-los, acionando o Samu. Eles
foram encontrados já sem sinais de vida.
Segundo o diretor de Medicina Legal da Polícia Civil, as vítimas deram entrada no setor de medicina legal por volta das 10h15. “Eles apresentavam sinais característicos de asfixia, como congestão de face e mudanças de coloração, bem como manchas que aparecem no processo de decomposição, que se inicia logo após a parada cardiorrespiratória”, disse o legista. Fontes: NSC Total - 01/01/2024; O Correio de Santa Catarina - 1 de janeiro de 2024; UOL - 12/01/2024; Agência Brasil - Brasília -Publicado em 12/01/2024
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