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segunda-feira, novembro 03, 2025

COMO LIDAR COM ONDAS DE CALOR CADA VEZ MAIS FREQUENTES?

Temperaturas extremamente altas comprometem a saúde, desestabilizam a sociedade e paralisam infraestruturas. O mundo conseguirá se adaptar a essa tendência?

Pessoas em todo o mundo estão enfrentando temperaturas escaldantes causadas pelas mudanças climáticas.

No Brasil, o inverno nem terminou, e a sexta onda de calor do ano deve atingir nos próximos dias o Centro-Oeste, Nordeste e Norte, além de áreas do Sudeste e do Sul, como o interior de São Paulo e de Minas Gerais e o norte do Paraná.

No verão europeu deste ano, as mudanças climáticas fizeram triplicar o número de mortes decorrentes do calor, segundo uma análise publicada nesta semana por pesquisadores do Imperial College e da Escola de Higiene e Medicina Tropical, ambas situadas em Londres. Das 24,4 mil mortes causadas por calor neste ano no continente, 68% provavelmente (16,5 mil) não teriam ocorrido se ondas de calor extremo não estivessem cada vez mais frequentes, apontam os especialistas.

IMPACTO NAS PESSOAS E NAS SOCIEDADES

As ondas de calor são o tipo de clima extremo mais mortal em todo o mundo, com centenas de milhares de pessoas morrendo todo ano por causas relacionadas ao calor. Entre os mais vulneráveis estão pessoas com mais de 65 anos, mulheres grávidas, crianças e pessoas com doenças crônicas ou pré-existentes.

As primeiras ondas de calor no início da estação são particularmente mortais, pois as pessoas geralmente estão menos preparadas e seus corpos ainda não se acostumaram às temperaturas mais altas.

Existem três riscos físicos principais associados às ondas de calor: desidratação, superaquecimento, e exaustão por calor e insolação.

O calor intenso não afeta apenas o corpo, mas também perturba a sociedade como a conhecemos. A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância e Adolescência) afirma que uma em cada cinco crianças —cerca de 500 milhões no total — vive em áreas que têm pelo menos o dobro de dias extremamente quentes por ano em comparação com seis décadas atrás. Muitos não têm infraestrutura, como ar-condicionado, para ajudar a lidar com o calor.

Em maio, o Paquistão passou por uma onda de calor em todo o país, com temperaturas chegando a 45 °C na província mais populosa do país, Punjab. Várias outras reduziram o horário escolar ou anteciparam as férias de verão. Ondas de calor também interromperam as aulas no Sudão do Sul e nas Filipinas este ano.

Da mesma forma, o calor extremo afeta o horário de trabalho das pessoas. Alguns países nas regiões mais quentes do mundo tradicionalmente fazem uma pausa depois do almoço para a sesta. Agora, outros em locais normalmente mais frios também estão discutindo como gerenciar o horário de trabalho quando as temperaturas sobem demais.

Infraestruturas como estradas, ferrovias e pontes são afetadas pelo calor excessivo. Superfícies de estradas de asfalto padrão, que não são feitas para climas quentes, tendem a formar sulcos e podem literalmente derreter, enquanto trilhos ferroviários podem entortar e pontes podem se expandir e deformar.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO CENTRO DO PROBLEMA

Dando continuidade a uma tendência, 2024 foi o ano mais quente já registrado. Com base em dados internacionais, a Organização Mundial Meteorológica (OMM) informou recentemente que todos os anos da última década estão entre os dez mais quentes já registrados.

"Não tivemos apenas um ou dois anos com temperaturas recordes, mas uma série completa de dez anos. Isso foi acompanhado por condições climáticas devastadoras e extremas, aumento do nível do mar e derretimento do gelo, tudo impulsionado por níveis recordes de gases de efeito estufa devido às atividades humanas", afirmou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.

As mudanças climáticas causadas pelo homem aumentaram a frequência e a intensidade das ondas de calor desde a década de 1950. Cada fração de grau de aquecimento é importante e fará com que elas se tornem ainda mais fortes e ocorram com mais frequência.

O carvão, o petróleo e o gás são, de longe, os principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Quando esses combustíveis fósseis são queimados para alimentar motores de combustão, gerar eletricidade, fabricar plásticos e aquecer casas, eles liberam gases de efeito estufa. Esses gases agem como um cobertor, abafando a atmosfera da Terra, retendo o calor do sol e contribuindo para o aumento das ondas de calor.

O calor extremo também pode levar a um risco maior de outros tipos de desastres, como secas e incêndios florestais, que tiveram recorde de destruição em 2024.

O QUE FAZER?

Especialistas em saúde aconselham as pessoas a ficarem longe do calor sempre que possível, evitar atividades extenuantes e beber bastante líquido, exceto álcool e cafeína.

As casas podem ser protegidas até certo ponto com persianas ou cortinas fechadas. O ideal é fechar as janelas durante as horas mais quentes, e abri-las para ventilar a casa nas horas mais frescas.

Usar roupas de cores claras que refletem o calor e a luz solar pode ajudar, assim como ventiladores elétricos, se a temperatura ambiente estiver abaixo de 35 °C.

Estratégias de longo prazo para tornar o calor mais suportável incluem tornar as cidades mais resilientes às mudanças climáticas, com espaços verdes e plantio de árvores ao longo das ruas. Isso não só fornece sombra, mas também reduz o calor retido no concreto.

De modo geral, especialistas afirmam que impulsionar a transição para a energia verde através da utilização de fontes renováveis é fundamental no desafio global de reduzir as temperaturas.

Em 2024, 40% da eletricidade mundial foi gerada a partir de energias renováveis. A energia solar foi o principal impulsionador dessa tendência, de acordo com um relatório do think tank global de energia Ember. Fonte: DW-quinta-feira, 18 de setembro de 2025

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sexta-feira, outubro 03, 2025

O QUE SÃO ILHAS DE CALOR URBANAS?

 Fenômeno pode elevar as temperaturas das cidades de 10 a 15 °C, expondo moradores a riscos associados ao calor extremo.

"Ilhas de calor urbanas" são áreas metropolitanas que ficam significativamente mais quentes do que seus entornos rurais devido à concentração de edifícios, áreas pavimentadas e atividades humanas, como a condução de veículos poluentes.

Como resultado, as ondas de calor se intensificam nas áreas urbanas, que já abrigam metade da população mundial. A estimativa é que esse número chegue a quase 70% até 2050. Tal efeito, conhecido como "ilha de calor urbana" pode elevar as temperaturas em 10 a 15 °C, expondo os moradores da região aos riscos associados ao calor extremo.

O QUE CAUSA AS ILHAS DE CALOR URBANAS?

As áreas rurais geralmente são cobertas por grama, plantações ou florestas, o que ajuda a resfriar o ar. O concreto escuro e o asfalto da cidade, por outro lado, absorvem o calor.

As plantas funcionam como um ar-condicionado natural, captando água do solo através de suas raízes e liberando-a no ar na forma de vapor. Superfícies impermeáveis, duras e escuras, como calçadas, estacionamentos e ruas asfaltadas, não permitem a penetração da água e, portanto, não proporcionam esse efeito de resfriamento.

Prédios altos e ruas estreitas podem aquecer o ar que fica preso entre eles. Esses "cânions urbanos" podem bloquear o fluxo natural de vento que, de outra forma, ajudaria a resfriar a área. A poluição causada por automóveis ou pela queima de combustíveis fósseis pode atuar como uma pequena camada de efeito estufa sobre uma cidade, retendo o ar quente.

Ilhas de calor costumam se formar ao longo do dia, à medida que calçadas e telhados emitem mais calor solar – atingindo o pico entre três e cinco horas após o pôr do sol. Do nascer do sol até o final da tarde, essas superfícies são expostas à intensa radiação solar e absorvem calor através de inúmeras camadas. Esse calor armazenado é então liberado lentamente após o pôr do sol.

ONDE SEU EFEITO É MAIS INTENSO?

Cidades maiores tendem a armazenar mais calor do que as menores. Os centros urbanos de Londres e Paris costumam ser cerca de 4 °C mais quentes do que seus arredores rurais à noite. O efeito de ilha de calor é ainda agravado pelo aumento das temperaturas globais.

 O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, com cerca de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. Sob as políticas atuais, a previsão é que esse aumento chegue a 2,7 °C até o final do século. O prognóstico se explica pelo atual volume de queima de combustíveis fósseis que aquecem o planeta e liberam gases de efeito estufa na atmosfera.

Essas mesmas ilhas de calor, aliás, podem estar agravando ainda mais as mudanças climáticas, pois impulsionam a demanda por ar-condicionado, que, por sua vez, em muitas regiões são movidos com energia gerada pela queima de combustíveis fósseis.

COMO RESFRIAR AS CIDADES?

Soluções para minimizar esse efeito incluem tornar as cidades mais verdes, adicionando aos centros urbanos árvores, arbustos e outras vegetações mais resistentes à seca, além de fontes e lagos, telhados verdes ou "frios" que absorvem e transferem menos calor do sol para os edifícios.

Esses telhados frios refletem mais luz solar do que uma superfície convencional e, portanto, aquecem menos. Telhados brancos permanecem mais frescos e podem refletir cerca de 60 a 90% da luz solar, mas outras superfícies refletoras também são uma opção.

Cidades como Nova York, por exemplo, começaram a pintar os telhados de branco em 2009 para ajudar a conter o efeito ilha de calor. Telhados mais frios também podem reduzir as temperaturas internas dos edifícios em até 30% e diminuir a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, reduzindo a demanda por energia para resfriar prédios.

No nível do solo, alguns países optam por borrifar água nas calçadas para resfriá-las. No Japão, essa prática tradicional centenária é conhecida como "uchimizu".

Outros preferem misturar espaços residenciais, comerciais e recreativos ou instalar "pavimentos frios" que usam materiais permeáveis ​​para refletir mais a radiação solar e aumentar a evaporação da água.

Megacidades como Los Angeles e Tóquio já pavimentaram suas ruas com cores mais frias. Um estudo em um dos bairros mais quentes de Los Angeles confirmou que um revestimento reflexivo é capaz de reduzir o efeito de ilha de calor.

A prefeitura de Tóquio já instalou cerca de 200 quilômetros dessas calçadas, priorizando áreas no centro da cidade. Até 2030, a capital japonesa pretende cobrir 245 quilômetros de vias metropolitanas.

A pequena cidade-estado asiática de Singapura, por sua vez, tornou-se uma das cidades mais verdes do mundo. Com mais de 40% de cobertura verde, ela conta com espaços destinado a reservas naturais e parques, jardins e vegetação.

Até 2030, a cidade planeja que cada cidadão tenha acesso a um parque a uma distância de dez minutos a pé. Singapura também limita rigorosamente o número de carros em suas ruas por meio de um caro sistema de licitação, com uma cota máxima para o número de veículos que podem ser registrados.  Fonte: DW-segunda-feira, 22 de setembro de 2025  

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