Crise de água:Rio Jaguari, MG, desmatamento das margens
O Rio Jaguari, um dos mais importantes da região Sudeste,
está com 10% de sua vazão natural no trecho em que passa por Extrema (MG) por
causa da falta de chuvas nos últimos meses. Com nascentes no Sul de Minas, o
rio é responsável por mais de 60% do abastecimento do Sistema Cantareira, em
São Paulo.
O Rio Jaguari é abastecido por mais de 10 mil fontes de
água. Ele nasce em Sapucaí-Mirim (MG) e corta os municípios de Camanducaia
(MG), Itapeva (MG) e Extrema, onde na divisa entre Minas Gerais e São Paulo,
ele se junta ao Rio Camanducaia. Já no Estado de São Paulo, o Jaguari se
encontra com o Rio Jacareí, e juntos, eles formam um dos reservatórios do
Sistema Cantareira.
"Minas Gerais é a caixa d'água do Brasil. Se não houver
chuva no Estado de Minas, com toda certeza, o abastecimento público de água, da
mesma forma como na geração de energia hidrelétrica, estará prejudicado",
explica José César Saad, coordenador de projetos do Consórcio Intermunicipal
das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).
Extrema é a única cidade mineira abastecida pelo Rio
Jaguari. Só dentro do município ele percorre cerca de 30 km. Cada trecho por
onde o rio passa é valorizado, seja para a prática de esportes radicais ou
mesmo para visitação no Parque Municipal do Jaguari, onde as quedas d'água
formam um cenário deslumbrante.
Mas nessa época do ano, o cenário era para ser ainda bem
diferente. Algumas das pedras que hoje podem ser vistas no rio, deveriam estar
encobertas pela água. "Hoje nós só temos 10% do que deveria estar passando
aqui. Era pra estar passando por volta de 30 mil litros de água por segundo, e
hoje está passando 2,5 mil litros por segundo", explica o secretário de
meio ambiente da cidade, Paulo Henrique Pereira.
DESTRUIÇÃO DA MATA CILIAR
A destruição da mata ciliar do Rio Jaguari ao longo de seu
trajeto sinuoso por dentro da Serra da Mantiqueira, no sul de Minas, é hoje a
maior vilã da recuperação das represas do Sistema Cantareira.
Sem a vegetação nas suas margens, que deram lugar a imensas
plantações de arroz, eucaliptos e a pastagens de gado, o Jaguari sofre um grave
processo de erosão que causa o assoreamento do leito do rio e impede que as
chuvas na região serrana cheguem aos reservatórios.
O resultado da destruição da mata ciliar do rio ao longo do
tempo, segundo especialistas, é justamente a diminuição do volume de água que
chega ao Cantareira. Segundo monitoramento da Fundação SOS Mata Atlântica, a
região tem apenas 21,5% da cobertura vegetal nativa.
“Sem matas ciliares
nas encostas dos rios, a própria chuva acaba sendo prejudicial para o
manancial. Em vez de infiltrar no solo, a água corre pela área desmatada,
levando sedimentos e assoreando o leito do rio”, explica Malu Ribeiro,
coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica. A vegetação das margens
funciona como um filtro, retendo a chuva para os lençóis freáticos, que estocam
água e aos poucos alimentam o rio.
NASCENTES- PERDAS DE MATA NATIVA
Mas, até próximo de suas nascentes, o Rio Jaguari já perdeu
sua mata nativa para plantações de pinus e eucaliptos, culturas consideradas
nocivas em áreas de proteção ambiental, justamente por consumirem muita água do
solo.
“Os eucaliptos são chamados de secadores de lagos, eles
competem com a gente porque consomem muita água e por isso crescem rápido. Pior
do que eles, só as áreas de pasto, que impermeabilizam completamente o solo”,
afirma Paulo Henrique Pereira, secretário de Meio Ambiente de Extrema.
Desde 2005, o município mantém o projeto Conservador das
Águas, que já cercou mais de 6 mil hectares de áreas de preservação permanente
que margeiam córregos pagando donos de terra pelo serviço ambiental prestado.
Ainda assim, Extrema tem apenas 15% de mata nativa preservada.
A destruição da mata ciliar do Rio Jaguari chega até a Serra
da Mantiqueira, em Camanducaia. Fazendas de eucaliptos e pinus tomaram toda a
região no alto da serra, onde estão as nascentes do manancial.
O Código Florestal estabelece como área de preservação
permanente a faixa que, a partir da máxima margem de cada rio, riacho, córrego
ou represa, vai de 30 a 100 metros. Nas áreas rurais de Camanducaia as
pastagens e fazendas de gado ocupam a margem do Jaguari.
PROTEÇÃO PARA PREVENÇÃO
Para a analista ambiental do Instituto Estadual de
Florestas, Raquel Junqueira Costa, enquanto a chuva não vem, a preocupação deve
ser com a preservação das áreas de nascentes. "Essa vegetação nativa que
fica no entorno das nascentes, às margens do curso d'água, ela protege as
margens do rio do assoreamento e filtra a água que chega no rio."
A chuva quando cai em terreno limpo, sem vegetação, corre
direto para o rio e depois volta ao mar, o que não acontece em áreas
conservadas, onde a água se infiltra na terra formando bolsões freáticos na
montanha, por exemplo. Assim, o solo funciona como uma esponja e vai liberando
água devagar pelas nascentes, garantindo o abastecimento no período seco.
PROJETO DE PRESERVAÇÃO DAS NASCENTES
Um projeto desenvolvido pela Prefeitura de Extrema busca
recompensar os produtores rurais que protegem as nascentes no município. O
projeto é aplicado na propriedade de Hélio de Lima há cerca de quatro anos. O
córrego que passa pelo local é protegido por uma cerca, para impedir o acesso
do gado. Além disso, várias mudas nativas foram plantadas na beira do curso
d'água e um sistema biodigestor, que trata o esgoto, também foi instalado.
Para preservar a área, ele ainda recebe dinheiro pra isso.
"Eu nunca esperava que a gente ia receber por isso, isso ajuda muito,
porque diminuiu o mal serviço pra mim e aumentou a minha renda", explica
Lima.
Depois de nove anos do programa, os resultados agradam.
"A qualidade da água está bem melhor. E também já tem relatos de nascentes
que estavam mortas, e após a gente cercar, isolar e fazer a preservação, ela
voltou", conta Arlindo Cortez, gerente da secretaria de meio ambiente de
Extrema.
PLANTIO DE MUDAS
Cerca de 1 milhão de
mudas de espécies nativas destinadas ao reflorestamento das bacias que compõem
o Sistema Cantareira estão há três meses aguardando a volta das chuvas na
região para serem plantadas. Segundo Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das
Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, responsável pelo projeto, as condições
climáticas ainda não estão favoráveis, apesar do ressurgimento de algumas
nascentes no sul de Minas.
“Desde novembro de
2014, estamos com as mudas de 86 tipos de árvores nativas esperando o tempo
melhorar para fazermos o replantio, priorizando a região de cabeceira do
manancial e seguindo até Bragança Paulista. Mesmo com essa chuva que está
caindo lá na serra, o solo ainda não está adequado para plantar”, disse Malu.
As mudas ajudariam a recuperar cerca de 400 hectares, área equivalente a 400
campos de futebol.
Nenhum órgão gestor de recursos hídricos federal ou estadual
tem um ponto de medição de pluviometria na região serrana do Jaguari, o que
impossibilita qualquer comparação. O primeiro registro é feito já na entrada da
represa, na região de Bragança Paulista, onde a vazão está 80% abaixo da média. Fontes: O Estado de São Paulo - 12 de Janeiro de 2015, G1
Sul de Minas-04/04/2014
Comentário: Estudo feito em 2010 pela Engenheira Florestal Gabriela
Camargos Lima sobre Avaliação da qualidade do solo em relação à
recarga de água na sub-bacia das Posses, Extrema (MG) do Rio Jaguari, já
apontava problemas futuros no abastecimento de água no sistema Cantareira..
O uso do solo com pastagem extensiva e sem um manejo
adequado tem alterado a paisagem na região Sul do estado de Minas Gerais, expondo-o aos agentes
erosivos, através das alterações dos atributos morfológicos, físicos e
químicos, e dessa maneira, modificando as condições de infiltração, propiciando
perda de água e de solo pelo escoamento superficial direto, comprometendo a
recarga dos aqüíferos e produzindo assoreamento de cursos de água nas partes
mais baixas.
O manejo adequado de bacias hidrográficas, notadamente em
regiões ambientalmente frágeis, como o Sul de Minas Gerais, é de importância capital
para a manutenção do escoamento subterrâneo da mesma, sendo este fundamental na
perenização dos cursos de água, cuja existência é função de condições
satisfatórias de recarga dos aqüíferos superficiais e por conseqüência, produção
de água nas nascentes.
Na região Sul do estado de Minas Gerais, grande parte das
pastagens apresenta degradação do solo pela compactação e erosão hídrica.
Alguns solos da região encontram-se em avançado estágio de degradação,
representado pela ocorrência de erosão laminar e sulco que, embora rasos, são
bastante freqüentes. Além da erosão, observa-se, em alguns locais, a redução da
vazão de riachos e ribeirões nos períodos de déficit hídrico. Estudos
realizados constataram que os solos são utilizados sem considerar a sua
capacidade de suporte, apresentam baixa fertilidade, que precisa ser corrigida,
e quando apresentam declives acentuados, devem ser adotadas práticas
conservacionistas. Em resumo, há tecnologia disponível e adaptável para a
redução das limitações dos solos a patamares aceitáveis, mas o investimento de
capital é inviabilizado, em muitos casos, pela situação do produtor rural
local, descapitalizado e desestimulado.
Nestas regiões um grande volume de água deixa de infiltrar naturalmente
nos solos em decorrência da redução da cobertura vegetal e do uso incorreto do
solo. Vários cursos de água estão completamente secos devido a alterações do
ciclo hidrológico e do nível do lençol freático. Este déficit, aliado à ampliação
das demandas de consumo de água, pode provocar um colapso no abastecimento nos
grandes centros, a exemplo do Sistema Cantareira que abastece a região da
grande São Paulo.
As nascentes estão localizadas no Estado de Minas Gerais,
nos municípios de Camanducaia, Extrema, Itapeva e Toledo. No município de
Extrema (MG), o rio Jaguari recebe um afluente importante, o rio Camanducaia.
Alguns quilômetros abaixo da referida confluência, já dentro do Estado de São
Paulo, o rio Jaguari é represado, constituindo um dos reservatórios do Sistema
Cantareira.
O ciclo hidrológico numa bacia hidrográfica envolve os
seguintes processos: precipitação, evapotranspiração, deflúvio (precipitação
nos canais, escoamento superficial, escoamento sub-superficial e escoamento
base) e armazenamento de água no solo. A interface entre solo, vegetação e
atmosfera tem uma forte influência no ciclo hidrológico.
Em sub-bacias pertencentes à bacia do Rio Jaguari,
localizadas no município de Extrema, sul de Minas Gerais, a criação de gado em
áreas impróprias para atividade agrícola diminui a cobertura vegetal degradando
o solo e os cursos de água, diminuindo a vazão das nascentes, riachos e rios,
influenciando negativamente o ciclo hidrológico bem como a
recarga do lençol freático. Nestas regiões, um grande volume de água deixa de
infiltrar nos solos em decorrência da redução da cobertura vegetal e do uso
incorreto do solo.
No caso do município de Extrema (MG), 99,8% de sua área
total está inserida no Sistema Cantareira, um dos maiores sistemas de
abastecimento público do mundo.
A área do estudo possui 1.196,7 hectares e compreende a
sub-bacia hidrográfica das Posses, localizada no município de Extrema, ao sul
do Estado de Minas Gerais (Figura 1). Esta sub-bacia está inserida na Bacia
hidrográfica do Rio Jaguari, um dos rios que abastece o Reservatório do Sistema
Cantareira no estado de São Paulo.
Dados obtidos por imagens do satélite LANDSAT 5 sensor TM do dia
5 de agosto 2009, através do site da Divisão de Geração de Imagens do
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);
■ Nota-se que a sub-bacia das Posses apresenta área de
vegetação arbórea de 289,1 ha, que representa aproximadamente 24% da área total
da sub-bacia,
■Enquanto que a área de entorno apresenta 7.958,2 ha de área
de vegetação arbórea, que equivale a aproximadamente 46% da área de entorno.
O conhecimento da atual situação de degradação da sub-bacia
das Posses foi claramente evidenciado e o índice de cobertura vegetal verificado
em campo confirmou as imagens obtidas por satélites. .
A sub-bacia das Posses possui aproximadamente 73% de sua
área ocupada por pastagens e 24% por vegetação arbórea, enquanto que a área ao entorno
da sub-bacia apresenta aproximadamente 48% coberta por pastagem e 46% coberta
por vegetação arbórea, caracterizando o predomínio por pastagens na sub-bacia
em estudo.
Marcadores: Meio Ambiente

1 Comments:
Excelente material. A agua de SP nao vem de SP, vem de Minas. E nao vem de um ponto. Vem de uma regiao mineira enorme. Atraves da coleta por milhares de corregos que acabam for formar os rios Jaguari e Camanducaia. E chega "de mao beijada" em SP. Se SP quiser MESMO essa agua precisa entender e cuidar melhor dessa imensa area de Minas.
Postar um comentário
<< Home