Lembrança: Explosão de caminhão com dinamite em Curitiba
Por volta das 16h15 um homem de estatura mediana entra
correndo na loja de roupas da empresária Lieselotte Gunther, no bairro Cabral,
em Curitiba, e grita: “Preciso usar seu telefone para ligar para os bombeiros.
Meu caminhão, lotado de dinamite, está pegando fogo”. O dia era 2 de setembro de 1976. O veículo, parado
a cerca de 50 metros do estabelecimento, explode minutos depois. “Escutei um barulho
ensurdecedor e vi um ‘cogumelo de chamas’. Assustada, fechei os olhos. Quando
abri, todas as roupas estavam caídas e os vidros estavam quebrados. Foi
terrível”, relata Lieslotte.
EXPLOSÃO
A explosão abriu uma cratera de quatro metros de diâmetro
por dois de profundidade na Rua São Luiz, nas proximidades da Avenida Anita
Garibaldi. Além da loja, outras 90 casas, localizadas nas quadras ao redor,
foram afetadas. Havia vidro e madeira por todo lado. Uma das portas do
Mercedes-Benz foi encontrada presa no fio de luz, a três quadras do local do
acidente.
O motor foi parar em cima do antigo prédio da Telepar, que
tem pouco mais de 20 metros de altura. Os vidros da antiga fábrica de bolachas
Lucinda, localizada na Rua Belém, ficaram despedaçados. A empresa teve de
fechar suas portas por cinco dias.
CAUSA
O caminhão carregava 1,5 mil quilos de dinamite e 600 quilos
de cola, um produto inflamável. No veículo da empresa Expresso Catarinense
Transportadora havia outros dois ajudantes. Quando o caminhão pegou fogo –
causado, segundo as autoridades, pela cola aquecida pela fumaça do escapamento
–, eles desceram e tentaram avisar aos moradores da região sobre a possível
catástrofe que estava prestes a ocorrer.
VÍTIMAS
Duas pessoas morreram atingidas por destroços do caminhão: o
agente penitenciário João Mateus dos Santos e o motorista Irani Oliveira da
Silva, do Hospital Veterinário São Bernardo. Silva, ao ver o caminhão pegando
fogo, tentou apagar as chamas.
Cerca de 80 feridos foram levados para o Hospital de
Clínicas e para o Hospital São Lucas
DESABRIGADOS
Os desabrigados, com ajuda da Igreja das Mercês, foram
encaminhados ao Ginásio do Clube Atlético Paranaense.
DESTRUIÇÃO
O caminhão desintegrou-se abrindo uma enorme cratera que se
formou no local, tendo os estilhaços e o deslocamento do ar atingindo mais de
90 residências, além de um ônibus que passava pelo local ferindo alguns
passageiros. Uma fábrica de bolacha foi atingida e vários de seus funcionários
ficaram feridos. Os efeitos da explosão destruíram totalmente a Central
Telefônica do bairro, deixando sem
comunicações os bairros de Juvevê, Cabral e Nau de Baixo.
O Presídio Provisório do Ahu, teve 30% do prédio danificado
No Alto do Cabral, o raio da explosão segundo os peritos foi
de três quilômetros em todas as direções. Onde havia construções menos
resistentes, o impacto e a destruição foram maiores.
A EXPLOSÃO SERIA CATASTRÓFICA SE FOSSE NO CENTRO
Segundo os peritos da Polícia Técnica, os danos seriam
incalculáveis. Se a explosão ocorresse na área central, o caminhão iria para
lá. No local onde ocorreu a explosão,
após o vácuo, os efeitos da explosão espalharam-se, porque havia espaço livre
para todos os lados. Se este caminhão explodisse no centro de Curitiba,
teríamos uma catástrofe muito maior, teríamos destruições por quatro ou cinco
quarteirões, para todos os lados.
AÇÃO JUDICIAL
A empresa encarregada do transporte dos explosivos foi
inteiramente responsabilizada pelo trágico acidente, pois cometeu a
incriminadora irregularidade de não receber autorização do Exército para entrar
na cidade.
Somente um ano depois a Promotoria de Justiça formulou a
denúncia contra a Expresso Catarinense, que foi apontada como negligente, pois
levava dinamite sem as medidas de segurança estipuladas pelo Exército. Uma
delas, por exemplo, era utilizar caminhão com baú de alumínio. A empresa, por
sua vez, alegou que, como o fogo teve início na carga, quem deveria ser
responsabilizada era a fabricante de dinamite.
CONDENAÇÃO
O tempo passou e só na década de 1990 a transportadora foi
condenada na Justiça. Ela teve de indenizar os moradores da região. A
empresária Lieselotte Gunther, por exemplo, recebeu 3.500 cruzeiros. Os
familiares das vítimas também foram indenizados. “O caso, no entanto, levou
muito tempo. Finalizou dois anos atrás. Ainda falta um saldo que estamos
tentando receber”, relata o advogado José César Valeixo Neto, que atuou em prol
dos familiares das duas vítimas fatais. A empresa, após o acidente, foi
desfeita. Nenhum dos herdeiros foi encontrado para comentar o assunto.
DEFESA CIVIL
A explosão do caminhão foi um dos motivos para a criação da
Defesa Civil de Curitiba. O órgão, que não existia em 1976, foi estabelecido
pela Lei Municipal nº 6725, de 18 de setembro de 1985.
Fontes: Folha de São Paulo, 03 e 04 de setembro de 1976, Gazeta
do Povo - Publicado em 22/11/2014

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