Tragédia de 1967: Caraguatatuba
HISTÓRICO
Desde
o século passado existe farta
documentação nos arquivos sobre as grandes chuvas na região.
Eram
raros os documentos desse período que não fizessem referência às chuvaradas do
tempo das águas, causadoras de grandes estragos na estrada, particularmente no
trecho da serra, inúmeras vezes inviabilizando o trânsito, com enormes
prejuízos para todos.
Há
um oficio ao presidente da Província, datado de 21 de Fevereiro de 1859, que
informa: " ...devido aos repetidos
temporais de pesadas chuvas, que há mais de um mês desaba em todo o Município ,
em especial um que houve no dia 20 de Janeiro, que por um pouco não arrasa
Caraguatatuba..."
TRAGÉDIA
DE 1967
O
ano de 1967 foi realmente atípico. Chovia quase todos os dias desde o início do
ano, 541 mm apenas em janeiro, o dobro do normal. Do dia 17 para 18 de março, um
temporal produziu quase 200
mm de chuvas em um solo já encharcado. No início da
tarde de 18 de março, sábado, a tragédia aconteceu sob intenso temporal que
chegou a acumular 580 mm de chuvas em dois dias.
Sucederam-se
inúmeros desabamentos que deram origem ao
lençol de lama que, segundo relatos, em dez minutos cobriu Caraguatatuba e fez
com que a cidade praticamente quase desaparecesse .
De
acordo com o posto da Fazenda São Sebastão ou "dos Ingleses" os níveis pluviométricos, no mês de março,
registraram um índice máximo de 851,0 mm - sendo 115,0 mm no dia 17 de março
de 1967 e 420, 0 mm
no dia seguinte, não acusando índice maior devido à saturação do pluviômetro.
CONSEQUÊNCIAS
As
consequências do desabamento afetaram Caraguatatuba em larga escala, o Rio
Santo Antônio (que nasce na serra e deságua no mar, atravessando a cidade),
arrastando tudo que havia pela frente, inclusive a ponte, alargou-se de 10m-20m para 60m a 80m.
Dezenas de milhares
de troncos de árvores vieram abaixo destruindo toda infra-estrutura urbana da
cidade, arrasando boa parte da estrada São José dos Campos-Paraibuna-Caraguatatuba,
conhecida hoje como Rodovia dos Tamoios, ―formando precipícios de mais de uma
centena de metros de profundidade.
A
Estrada de Ubatuba sofreu quedas de barreiras nos trechos de Maranduba, Jituba,
Sumaré, Prainha e Martim de Sá, recobrindo seu leito em 0,80 m de lama.
Os jornais da época noticiaram: "Caraguatatuba
esta submersa e isolada de todos!"
No
bairro Rio do Ouro, gigantescas barreiras começaram a cair pela manhã, formando
uma enorme represa que estourou algumas horas mais tarde, desaparecendo com o
bairro e provocando o deslocamento da ponte principal do rio Santo Antonio.
Caso não tivese acontecido esse deslocamento, a cidade inteira teria sido
inundada e coberta pelas águas.
Cada
pedaço de terra de um bairro desta cidade poderá ter sepultado vários
habitantes, transformando em um grande cemitério. Muitos corpos jamais foram
encontrados, principalmente aqueles que
foram arrastados para o mar e impelidos pelas ondas para pontos bem distantes.
Um
balanço da situação em 21 de março de 1967 apresentava o seguinte quadro:
■30
mil árvores desceram as encostas do morro e se espalharam em volta da cidade.
■5
mil troncos rolaram e soterraram casas, destruindo parte da BR-6.
■400
casas desapareceram debaixo da lama.
■Um
ônibus lotado de passageiros desapareceu e vários carros ficaram isolados.
■Na
Fazenda São Sebastião havia dezenas de mortos e feridos.
■3
mil pessoas, aproximadamente, perderam suas casas, (o município contava com 15
mil habitantes).
■ 120
mortos já haviam sido encontrados.(O número exato de mortos não poderão jamais
ser computados, pois dezenas de pessoas desapareceram, não restando vestígios).
CARAGUATATUBA
ESTÁ SOB A LAMA
Por
terra não se chega ao litoral Norte. Na estrada Paraibuna-Caraguatatuba a partir
do Mirante, no quilometro 194, até o quilometro 199, trinta barreiras caíram,
obstruindo a estrada. E no quilometro 202 a estrada desapareceu, levada pelas águas,
em quase dois mil metros.
SALVAMENTO
A
primeira turma de salvamento chegou a Caraguatatuba no domingo de manhã, 19 de
março. O transporte foi feito em rebocador, de Santos a São Sebastião, de lá em
barco de pesca até Caraguatatuba. Eram soldados, enfermeiros e médicos. Outra
turma, de Ubatuba, saiu de madrugada, por rodovia, e só chegou às quatro da
tarde.
Logo
depois do rebocador "Sabre", seguiu o navio oceanográfico "Almirante Saldanha", levando
equipamento de socorro de emergência e gêneros alimentícios. Era esperado de
volta pela madrugada, trazendo para Santos 500 desabrigados e feridos. Também foi mobilizado o petroleiro "Mato
Grosso", da Fronape.
Na
segunda-feira, o navio "Rio das Contas" deixou o Colégio Naval, em Angra dos Reis , e
foi para Caraguatatuba para retirar feridos e desabrigados. Também o rebocador "Tritão" partiu da
Guanabara levando combustível para o reabastecimento dos helicópteros da Marinha.
Às
21 horas o QG da Força Publica recebeu pelo radio aviso do comando do 5º
Batalhão Policial de Taubaté, informando que a tropa que seguiu por terra já alcançou
Caraguatatuba. O sistema de energia elétrica foi restabelecido parcialmente.
Para
os primeiros socorros, a Força Publica mobilizou 350 homens, entre oficiais e soldados,
pertencentes a oito unidades, de São Paulo, Taubaté e Santos. A informação da
Policia Rodoviária é de que a estrada de
Paraibuna a Caraguatatuba poderá ficar interrompida por três meses. Uma
variante deverá ser aberta, mas todos os homens e maquinas disponíveis foram deslocados para trabalhar na estrada
entre Ubatuba e São Luís do Paraitinga, também interrompida, mas que está em
condições de ser recuperada nos próximos dias.
Fontes:
Estadão - 19 e 21 de janeiro de
2011, trechos do livro Santo Antônio De Caraguatatuba, Serra do Mar
– Cptec, Folha de S.Paulo, terça-feira, 21 de março de 1967
Comentário:
Caraguatatuba, em 1967, era um balneário
turístico de 15 mil habitantes. Quais seriam as consequências se aquela
tragédia ocorresse hoje, com os atuais 100 mil habitantes?
As
encostas escarpadas da Serra do Mar possuem como característica natural a
instabilidade, estando sujeitas à ocorrência de fenômenos de movimentação de
massa devido à declividade de encosta superior
a 40%. Adicionando sua instabilidade natural à ocorrência de frequentes chuvas orográficas (chuvas de relevo), que podem ou não ser potencializadas por fenômenos
meteorológicos, assim aumentando à vulnerabilidade da região à ocorrência de fenômenos de
deslizamentos significativamente, especialmente quando a quantidade de chuva excede a capacidade de infiltração
do solo, provocando impactos ambientais. (fonte: Mudança climática, riscos e
vulnerabilidade: um estudo dos eventos ocorridos em 1967 e 1996 na planície
litorânea de Caraguatatuba – SP)
Segundo
a Organização das Nações Unidas, com 436 mortos, o deslizamento foi o quarto maior desastre
natural da história do Brasil.
Marcadores: alagamento, desastre, Meio Ambiente

4 Comments:
Cuando tenía 8 años, tuve un episodio de fiebres y en un delirio, dije que "ibamos a morir todos en un alud".. yo me mire metida en un carro wolskwagen verde con màs personas.. cuando paso mi enfermedad mi madre me contò, a mi sorpresa que yo ni sabía el signifiado de alud. Naci en marzo de 1967
Você visualizou a catástrofe de Caraguatatuba - Brasil em meio ao delírio. Sua consciência foi levada para um local onde havia muito sofrimento. Isto é comum a pessoas sensíveis e espiritualizas
Minha família estava lá me lembro nosso desespero pelo rádio em1967
Existe lista com os mortos?
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