Páginas

sexta-feira, maio 30, 2025

JOVENS INTOXICADOS E MORTOS EM BMW NA RODOVIÁRIA DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

 
Quatro jovens foram encontrados sem vida dentro de uma BMW no estacionamento do Terminal Rodoviário de Balneário Camboriú, em uma ocorrência que mobilizou equipes de resgate e serviços de emergência da cidade. A maior suspeita das autoridades é morte por intoxicação gasosa.

A Central de Operações do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC) foi acionada por volta das 7h30 desse 1º de janeiro para prestar apoio às unidades do Samu, que estavam lidando com quatro pessoas em parada cardiorrespiratória.

Aos poucos a polícia começa a esclarecer as circunstâncias envolvendo a morte de quatro jovens em Balneário Camboriú na manhã desta segunda-feira (1º). O relato de uma mulher que estava com o grupo aponta que as vítimas, de 16, 19, 21 e 24 anos, relataram tontura, enjoo e até sangramento pouco antes de perderem a vida.  

A mulher contou ter vindo de Brasília para encontrar o namorado, que estava na BMW. Era por volta das 3h15min quando o grupo chegou para buscá-la já relatando um mal-estar. Como o trânsito estava intenso para conseguir ir a Florianópolis, onde moravam, teriam decidido ficar no estacionamento da rodoviária até que se sentissem melhor.

Segundo relato da mulher à Polícia Militar, o carro teria ficado com o ar-condicionado ligado e os quatro jovens dentro. Ela teria optado por ficar do lado de fora, mas por três vezes teria ido ao veículo ver se o namorado e os amigos tinham acordado. Por volta das 7h, a mulher percebeu que o companheiro estava sangrando pela boca. Foi quando pediu ajuda para chamar o Samu.

A equipe de socorro teria encontrado os quatro em parada cardiorrespiratória. Pessoas que estavam no local ajudaram a colocar as vítimas na calçada e por 40 minutos vários profissionais da saúde tentaram reanimar os jovens, mas sem sucesso. Todos morreram antes de serem levados ao hospital. Exames devem apontar de fato o que provocou os óbitos.

PERÍCIA

Uma perícia deve apontar a causa dos óbitos.

O carro passou por perícia e uma análise preliminar teria indicando uma perfuração no veículo jogando monóxido de carbono para dentro da BMW, segundo a Polícia Civil. A PM disse que não encontrou drogas ou bebida alcoólica no carro e acredita em morte acidental.

FAMILIARES

Familiares das vítimas estiveram na delegacia durante a manhã, mas só devem ser ouvidos ao longo da semana. Segundo o delegado Bruno Effori, estão todos bastante abalados pela morte prematura dos jovens e que ainda é incógnita às autoridades. Apenas uma mulher, namorada de Gustavo, seria ouvida nesta tarde. Isso porque ela encontrou o companheiro e os amigos passando mal e chamou o socorro. O grupo teria reclamado para a jovem de tontura, enjoo e um deles chegou a sangrar pela boca.

INVESTIGAÇÃO

A principal linha de investigação aponta que os jovens podem ter morrido por intoxicação de monóxido de carbono, provocada por uma perfuração encontrada no veículo. A perícia tentará responder se era um defeito de fabricação ou se foi provocado. Segundo o delegado a BMW havia passado por uma customização no sistema de escapamento, na parte externa. A informação foi repassada pela família dos jovens. A modificação era para aumentar o ronco do motor.

SISTEMA DE ESCAPAMENTO FOI ADULTERADO

O sistema de escapamento da BMW havia sido adulterado, o que provocou o vazamento do gás tóxico para o interior do veículo. O anúncio foi feito em entrevista coletiva concedida hoje após análise da Polícia Científica.

Os mecânicos responsáveis serão ouvidos pela polícia, que acredita que a customização foi feita de forma "caseira". No momento, trabalha-se com a hipótese de indiciamento por homicídio culposo.

A montadora não tem qualquer responsabilidade, concluiu a polícia. A modificação foi feita posteriormente, em uma oficina que não tem relação com a BMW.

MEDIÇÕES DETECTARAM

Medições detectaram concentrações de, no mínimo, 1.000 ppm (partículas por milhão) de monóxido de carbono dentro do carro. Para se ter uma ideia, a leitura em um carro sem adulteração é de 20 a 30 ppm, direto na saída do escapamento. Essa concentração, de 1.000 ppm, é suficiente para provocar inconsciência e levar à morte em um período entre uma e duas horas.

A modificação que trocou o catalizador do escapamento por um downpipe foi feita em Aparecida de Goiânia, em Goiás. O downpipe proporciona maior vazão do fluxo de gases, aumentando a rotação da turbina e assim conseguindo gerar mais potência para o carro.

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

A Polícia Científica de Santa Catarina concluiu que os quatro jovens encontrados mortos no dia 1º de janeiro, no interior de um carro na rodoviária do Balneário de Camboriú, foram intoxicados por monóxido de carbono, emitido ao interior do veículo por meio do ar-condicionado.

A falha decorreu de modificações feitas em uma peça do escapamento, com o objetivo de dar maior potência ao motor.

As investigações iniciais apontaram parada cardiorrespiratória, e as suspeitas – confirmadas pela perícia – eram de que, provavelmente, eles teriam se intoxicado com esse gás incolor e inodoro altamente letal, quando inalado em grande quantidade.

"As provas periciais demonstraram que a causa da morte das quatro vítimas se deu por asfixia por monóxido de carbono decorrente das alterações irregulares no escapamento”, resumiu a perita geral da Polícia Científica de Santa Catarina.

LAUDO PERICIAL

Alguns detalhes do laudo pericial e do inquérito, apresentados na sexta-feira (12 de janeiro de 2024) pela Polícia Civil do estado. Segundo a perícia as amostras de sangue e urina das vítimas não detectaram qualquer presença de drogas, medicamentos ou venenos.

Já as análises de presença de monóxido de carbono constataram saturação acima de 50% em três das vítimas e entre 49% e 50% na quarta vítima. Em outra frente, foi investigada a origem desse monóxido de carbono, gás bastante presente no ar, gerado pela queima de material orgânico.

“O problema da intoxicação ocorre quando estamos em ambiente fechado, confinados, em que ele atinge concentração superior à do oxigênio. Ele tem uma afinidade 200 vezes maior do que o oxigênio, quando em nosso sangue. Então rapidamente nossa hemoglobina troca o oxigênio por ele e o entrega aos nossos órgãos, e a morte ocorre lentamente”, explicou a perita Bruna Boff.

ORIGEM DO GÁS

Coube ao perito Luiz Gabriel Alves explicar a origem do gás que matou os jovens. Segundo ele, o veículo havia passado por algumas modificações, visando ampliar a potência e o ruído do motor. Uma das peças alteradas foi o chamado downpipe – parte do sistema de escapamento que se conecta com a saída do turbo do catalisador.

“A tubulação foi substituída, desviando o caminho do escape, sem que passasse pelos abafadores. Isso gera maior ruído e ganho de potência. Identificamos um rompimento próximo à grade que segue para o ar-condicionado”, explicou o perito.

A ausência de fixação ou solda no suporte do downpipe resultou na sucção do gás pelo ar-condicionado, transformando o interior do veículo em uma “atmosfera tóxica”, conforme mostrou o medidor de teor de gases utilizado pelos peritos.

Segundo Alves, a quantidade de gás emitido para a parte interna, quando o ar-condicionado estava ligado, era tão grande que superava o limite do medidor utilizado para a análise pericial. “Com o ar desligado, o resultado ficou em zero”, acrescentou ao explicar que essa modificação na peça não é permitida.

Responsável pelo inquérito policial do caso, o delegado Vicente Soares disse que, diante desse contexto, o foco da investigação será agora a oficina responsável pela modificação na peça. A alteração, segundo ele, foi feita na cidade de Aparecida de Goiânia, em Goiás.

“O proprietário da oficina relatou que o downpipe foi, de fato, manufaturado por eles, e que ela não foi comprada da indústria. Portanto é caseira. Os mecânicos serão ouvidos para a conclusão do inquérito policial, e os envolvidos na montagem do equipamento podem ser responsabilizados por homicídio culposo”, informou o delegado. Ele não informou o nome da mecânica que será foco das próximas investigações.

ÚLTIMOS MOMENTOS

O delegado Soares explicou como foram os últimos momentos das vítimas. No dia 31, quando a caminho de Camboriú, o veículo apresentou alguns engasgos. Como o problema parecia resolvido, os jovens deram sequência à viagem.

Após a virada de ano, todos começaram a passar mal, e acreditavam se tratar de intoxicação alimentar, causada pela ingestão de cachorros quentes. “Após a virada, eles foram à rodoviária para buscar uma amiga, às 3h15 [do dia 1º]. Chegaram ao local sentindo enjoo por causa do monóxido e resolveram então ficar no carro para tentarem se recuperar”, disse o delegado.

A amiga recém-chegada ficou do lado de fora, achando que todos estavam apenas dormindo no interior do veículo que estava com o ar-condicionado ligado. Na sequência, percebeu que a situação era grave, quando não conseguiu despertá-los, acionando o Samu. Eles foram encontrados já sem sinais de vida.

Segundo o diretor de Medicina Legal da Polícia Civil, as vítimas deram entrada no setor de medicina legal por volta das 10h15. “Eles apresentavam sinais característicos de asfixia, como congestão de face e mudanças de coloração, bem como manchas que aparecem no processo de decomposição, que se inicia logo após a parada cardiorrespiratória”, disse o legista. Fontes: NSC Total - 01/01/2024; O Correio de Santa Catarina - 1 de janeiro de 2024; UOL - 12/01/2024; Agência Brasil - Brasília -Publicado em 12/01/2024

Nenhum comentário:

Postar um comentário