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segunda-feira, abril 09, 2018

Acidentes de trabalho na região de Ribeirão Preto

Os afastamentos motivados por acidentes de trabalho causaram, em seis anos, um impacto previdenciário de R$ 248,1 milhões em toda a região de Ribeirão Preto (SP), aponta um levantamento feito pelo G1 com base em dados do Ministério Público do Trabalho (MPT).

Restaurantes, produção de açúcar e hospitais estão entre os que alavancaram concessão de 28,5 mil auxílios por afastamentos, segundo Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho.

Os números disponibilizados pelo Observatório Digital de Segurança e Saúde do Trabalho contabilizam registros entre 2012 e 2017 e referem-se à concessão de 28.550 auxílios-doença decorrentes de lesões funcionais de empregados com carteira assinada em 66 cidades.
Superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de 25 cidades da região, o montante total gasto pela União é quase equivalente, por exemplo, ao que Colômbia (SP), município de 6,2 mil habitantes no nordeste paulista, movimenta por ano em sua economia.

O valor também representa quase nove vezes mais do que Taquaral (SP) gera em riquezas.
As cidades mais populosas da região – Ribeirão, Franca (SP), Barretos (SP) e Sertãozinho (SP) – concentram a maior parte das ocorrências, sobretudo relacionadas a fraturas nas mãos, mas são acompanhadas por municípios menores, como Guaíra (SP).
Restaurantes, atendimento hospitalar e produção de açúcar, etanol e calçados estão entre os que mais contribuíram para esses casos.

IMPACTO PREVIDENCIÁRIO DOS ACIDENTES DE TRABALHO
Os maiores resultados registrados entre 2012 e 2017 na região de Ribeirão Preto
















Fonte: Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho/MPT

 Para a procuradora regional do Trabalho Regina Duarte da Silva, os números resultam do descumprimento das normas reguladoras de segurança nas empresas, que repercutem na falta de treinamentos adequados e de equipamentos de proteção individual, além de jornadas excessivas.
"O acidente muitas vezes nem mereceria esse nome de acidente, que é um fato inesperado. Às vezes é plenamente evitável se fossem tomadas as medidas de segurança", analisa.

AFASTAMENTOS NO TRABALHO
Ribeirão Preto lidera a lista com indenizações da ordem de R$ 54,2 milhões referentes a 6.643 afastamentos, sobretudo ocorridos em restaurantes e redes de serviço, além de atendimentos hospitalares. As fraturas nas mãos e nas pernas são as mais comuns.
"Em restaurantes e bares, a parte do corpo mais utilizada são os membros superiores, as mãos, inclusive ele [funcionário] tem contato com perfuro-cortantes, com faca, espeto. Não havendo cuidados necessários são esses os órgãos que serão mais atingidos", afirma Regina.
Em seguida aparece Franca (SP), com despesas de R$ 29,2 milhões referentes 4.359 ocorrências que levaram o funcionário a deixar temporariamente suas funções, sobretudo na indústria calçadista, que concentra 20% dos casos, em situações geralmente ligadas a fraturas nas mãos, pernas, braços e ombros.

AS LESÕES MAIS COMUNS































Em Barretos (SP), as 1.785 ocorrências levaram a um impacto de R$ 26,8 milhões, principalmente em função de fraturas nos punhos e nas mãos e problemas de coluna cervical sofridas por pessoas que atuam no atendimento hospitalar (13,18%) e na fabricação de produtos de carne (10%).
A produção de açúcar bruto e a fabricação de equipamentos industriais foram alguns dos segmentos que mais levaram às 1.823 ausências de trabalhadores, que geraram gastos de R$ 12,4 milhões, também em função de fraturas e ferimentos de punho, mão, além de pernas e antebraço.

Na sequência, destaca-se Guaíra, município de 40 mil habitantes onde os 653 casos registrados pelo observatório geraram um impacto previdenciário de R$ 11 milhões.
A fabricação de etanol, com 18% dos casos registrados, e a moagem e fabricação de produtos de origem vegetal – com 16% - foram os segmentos que mais concentraram afastamentos entre 2012 e 2017 na cidade.

Os números levantados pelo Observatório Digital, segundo a procuradora, poderiam ser ainda maiores, já que não são contabilizados os trabalhadores informais.
"Houve uma redução drástica no número de postos de trabalho. Quando esse número começou a cair passou a ser trabalho informal e o trabalho informal não é computado nesses índices. Então os acidentes são muito grandes, continuam ocorrendo, mas na informalidade."

PREVENÇÃO E FISCALIZAÇÃO
Segundo a procuradora, a redução desses afastamentos passa por programas de prevenção de acidentes e de avaliações médicas das empresas, mas também depende do combate a práticas como a sobrejornada, recorrente na recessão econômica.
"A sobrejornada é um fator importantíssimo para a ocorrência de acidentes, porque toda vez que a gente trabalha cansado a gente está mais desatento, menos propício a observar as regras de segurança."
O Ministério Público do Trabalho realiza fiscalizações nos municípios, mas a demanda é extensa, diz Regina. “A gente não consegue. Acaba que a gente fica trabalhando muito na tutela reparatória, que é depois que o acidente aconteceu, e muito pouco na tutela preventiva.” Fonte: G1-29/03/2018

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