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sexta-feira, dezembro 16, 2011

Incêndio no prédio da Eletrobrás - part.1

O fogo começou na quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2004, por volta das 4h30 da madrugada, na cidade de Rio de Janeiro. A brigada de incêndio do prédio tentou controlar o incêndio no 17o andar, mas os bombeiros foram acionados às 4 h 36 min e chegaram 16 minutos depois de receber o chamado. O primeiro foco foi logo controlado. Às 7h, uma explosão fez o fogo se propagar para os cinco andares superiores.

INICIO DO COMBATE AO INCÊNDIO NO 17O ANDAR PELOS BOMBEIROS
Os bombeiros encontraram o 17º andar com o seguinte cenário:
■O comandante deslocou-se, juntamente com alguns integrantes da guarnição para o 14º andar através de uma prumada de elevadores oposta à aquela na qual havia a fumaça não identificada. A guarnição utilizou a escada para acessar o 17º andar.
■A porta de acesso ao hall dos elevadores do 17o fechada, com fumaça saindo por suas aberturas inferiores e superiores. A porta foi arrombada e o comandante da guarnição constatou que o local estava completamente ocupado pela fumaça, somente sendo possível a penetração com o uso de aparelho de respiração autônoma.
■Foi necessário o arrombamento de mais 02 (duas) portas. O comandante separou a guarnição em grupos compostos por 03 (três) elementos, equipados com aparelhos de respiração autônoma em condições de uso imediato, para penetrar no local em busca do foco do incêndio
■A guarnição conseguiu, após alguns minutos, identificar o foco principal do incêndio e iniciou o combate ao fogo utilizando o sistema preventivo do prédio, através da caixa de incêndio do 18º andar.

COMBATE AO INCÊNDIO INICIAL
O comandante solicitou o reforço da viatura APM-06 (plataforma mecânica, a mais alta da corporação), único equipamento com altura suficiente para combater o incêndio externamente e bem como remessa para o local de mais cilindros de ar comprimido cheios para uso pela guarnição nos aparelhos de respiração autônoma

A viatura APM-06 foi posicionada na Av. Rio Branco com abastecimento através de uma Auto-Bomba que, por sua vez, seria abastecido por um hidrante de coluna.
Naquele momento, o incêndio no 17º andar estava sob controle com o foco identificado e sendo combatido.

REFORÇOS DE CILINDROS DE AR
Algum tempo depois chegaram ao local mais 10 (dez) cilindros de ar, os quais foram imediatamente empregados na operação. O comandante determinou que fossem trazidos para o local e qualquer cilindro disponível para que em nenhum momento houvesse falta de cilindros para as guarnições.

TEMPERATURA DO FOGO AUMENTA
O comandante e mais 03 (três) integrantes guarnição, equipados com aparelho de respiração autônoma, perceberam que o ambiente estava com temperatura muito mais elevada, porém com menos chamas, do que anteriormente. No interior do 17º andar os bombeiros se orientavam, desde o início, através do caminho estabelecido pela linha de combate (três mangueiras de 1 1/2” conectadas à caixa de incêndio do 18º andar), e por uma corda de prontidão estabelecida também com este objetivo.

Os bombeiros perceberam alguns ruídos, que deduziram serem de janelas quebrando e o forro do teto desmoronando. As condições de visibilidade eram extremamente precárias e os bombeiros foram surpreendidos por um fenômeno que, pelas características assemelhava-se a um “Flash Over”, o qual os forçou a se abaixarem e, como estavam com a visibilidade prejudicada, acabaram por se separar, tendo em vista que a mangueira foi arremessada e momentaneamente perderam o contato com a corda de prontidão (guia).
Por volta das 7 h 15 min, o comandante da guarnição informou ao Centro de Operações a real situação, solicitando reforços para o auxílio no combate, bem como a presença do Maj Diretor de Operações e executando também a evacuação das edificações próximas.

POSICIONAMENTO DOS EQUIPAMENTOS DE COMBATE AO FOGO NA PARTE EXTERNA DO PRÉDIO
O estabelecimento final da viatura APM-06 foi executado já com a presença do Maj BM Diretor de Operações. Foram estabelecidas;
■duas linhas de combate através da edificação localizada na Rua da Alfândega, em frente ao prédio em chamas, através de seu sistema preventivo e
■uma linha de combate através do prédio com paredes geminadas ao prédio em chamas, também através de seu sistema preventivo, com fachada para a Avenida Presidente Vargas, além do combate pelo interior da edificação sinistrada (16º Andar).

PROPAGAÇÃO DO FOGO – EXPLOSÕES INTENSIFICARAM O FOGO
Por volta das 7 h, houve um “flash over” explosão provocada pelo superaquecimento dos gases em combustão
Às 11h 10, o Corpo de Bombeiros anunciou que o fogo estava controlado, mas surgiram novos focos às 13 h 30 no 20º andar e às 15 h15 ocorreu uma nova explosão, dessa vez no 21º andar , galões de óleo diesel usados para abastecer geradores e o sistema de refrigeração provocaram ainda quatro explosões.

ÁREA ISOLADA
Trabalhadores de prédios vizinhos foram retirados do local e a energia na região foi cortada.
Cerca de 40 policiais militares do 13º Batalhão do Rio fazem o isolamento de parte da avenida Rio Branco, da avenida Presidente Vargas e das ruas Buenos Aires, Alfândega e Uruguaiana, centro da cidade.

DESTROÇOS CAÍAM
Esquadrias das janelas e dos aparelhos de ar-condicionado derreteram. Os aparelhos caíram e vidraças explodiram.
"As labaredas ultrapassavam o prédio e caíam bolas de fogo e aparelhos de ar-condicionado", disse o empresário Carlos Eijoan, que chegou ao trabalho às 7 h 30.

PRÉDIOS INTERDITADOS
Pelo menos oito prédios foram interditados pela Defesa Civil.

PRÉDIO
Construído em 1955, o prédio Herm Stoltz é um prédio de arquitetura moderna, típico da Avenida Presidente Vargas. Edificação comercial co*m área construída total de 25.783 m² , com 25 andares, sendo: subsolo, térreo, sobreloja, 2º ao 23º andares.

O que funcionava no prédio
Ao todo, cerca de 900 funcionários e prestadores de serviços da Eletrobrás trabalhavam no prédio e outros 250 ligados à Sul América Capitalização.
1o ao 6o andar – Banco Real
7o ao 13o – Fundação Eletros
14o – Informática da Eletros
15o – RH Eletros
16o – Sul América
17o – Eletrobrás
18o – Eletrobrás
19o – Sul América
20o – em diante, Sul América

ÁREAS ATINGIDAS PELO FOGO
Das áreas atingidas, a em¬presa ocupava o 17o (único de propriedade da Eletrobrás), o 18o , o 20o e o 21o andares, alugados a terceiros.
O incêndio atingiu os departamentos de Auditoria, Relações Internacionais, Engenharia, Comunicação Social, Recursos Humanos, Informática e Acompanhamento Empresarial. O 19o andar era ocupado pela Sul América Capitalização (que também tinha atividades no 16o andar) e 22o andar era usado pelos condôminos para armazenar material de apoio.

EQUIPAMENTOS DE COMBATE CONTRA INCÊNDIO DO PRÉDIO
A edificação possui, o projeto de incêndio aprovado pelo Corpo de Bombeiros.
O sistema preventivo era composto;
■por uma canalização preventiva com 50 mm de diâmetro (2”), com sucção positiva e
■ pressurização através de 02 (duas) eletrobombas de 5,0 CV cada, sendo uma de reserva, e possuía uma caixa de incêndio por andar.
A escada existente possuía enclausuramento de acordo com a Lei nº 374/63, a qual determina que a escada possua uma porta corta-fogo por andar.
As eletrobombas não estavam funcionando adequadamente, no momento do incêndio, mas a altura estática permitiu uma pressão satisfatória ao combate.

PROBLEMAS DIFICULTARAM O COMBATE
O comandante do Corpo de Bombeiros da Capital, coronel Francisco Carlos Bragança, admitiu que a corporação enfrentou duas dificuldades para combater o incêndio que atingiu a sede da Eletrobrás;
O coronel disse que algumas mangueiras furaram por causa dos cacos de vidro no chão, mas logo foram substituídas. Para ele, não houve imperícia dos bombeiros ao carregar o equipamento.
Outra dificuldade foi o excesso de divisórias, que teria atrapalhado o acesso aos focos.

VÍTIMAS
O incêndio causou intoxicação em 16 bombeiros. Outros dois teriam sofrido queimaduras leves.
Três pessoas que estavam próximas ao prédio também ficaram feridas sendo duas delas atingidas por fragmentos que caíram do edifício. A outra vítima, uma mulher, foi atropelada por um carro de salvamento, segundo o Corpo de Bombeiros, e levada para o Hospital Souza Aguiar.
A estudante Luana de Santa Isabel Mendes, 18 anos, continua em estado grave no Hospital Souza Aguiar. Ela foi atropelada pelos bombeiros quando chegava ao trabalho, na hora do incêndio. Luana teve traumatismo craniano, contusão torácica, fratura na tíbia esquerda e está com um coágulo no cérebro.

INCÊNDIO CONTROLADO
O comandante do Corpo de Bombeiros, cel. Francisco Carlos Pessanha Bragança informou, que o incêndio no prédio da Eletrobrás está controlado. Segundo ele, existem 120 homens do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil atuando no combate às chamas. Agora eles trabalham para extinguir pequenos focos de fogo que ainda se encontram no prédio. "Com certeza o incêndio já está controlado. O único risco que corremos é que o fogo volte a surgir por causa dos vento", disse o coronel, explicando que o vento pode fazer com que pequenas chamas se espalhem pelos andares por meio do duto de ar-condicionado central.

RESCALDO E LIMPEZA DO LOCAL
Os focos de fogo só foram totalmente extintos no sábado, 28 de Fevereiro, por volta das 7 horas, 27 horas após o início do incêndio. Durante a madrugada, cerca de 60 bombeiros trabalharam no resfriamento dos sete andares atingidos pelo fogo (seis ficaram totalmente destruídos e um foi parcialmente atingido).

As equipes do Departamento de Operações Especiais da Prefeitura e do Corpo de Bombeiros estão fazendo a limpeza externa da fachada para retirar parte de concreto e esquadrias de alumínio que estejam na iminência de despencar. Este trabalho começou com a retirada das esquadrias de alumínio das fachadas voltadas para a Rua da Alfândega e Avenida Rio Branco. As equipes da Defesa Civil vão concluir o trabalho com a demolição e retirada das esquadrias e aparelhos de ar-condicionado com risco de queda voltados para as avenidas Rio Branco e Presidente Vargas.

RISCO DE DESABAMENTO
Uma comissão formada pelas Defesas Civis do Estado e do município e membros do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) concluíram que o prédio da Eletrobrás não corre risco de desabamento, mas que parte da fachada terá que ser demolida. .
Luís André Moreira Alves, engenheiro da Defesa Civil municipal, disse que alguns pilares e lajes ficaram comprometidos e terão que passar por uma reforma estrutural: "Mas não há risco de desabamento porque outras estruturas absorveram o peso das que ficaram comprometidas".
As grandes rachaduras que o prédio apresenta, segundo Alves, estão em dois painéis de alvenaria que revestem a fachada, começarão a ser demolidos assim que a perícia do instituto de criminalística liberar o local.
De acordo com ele, a demolição será feita manualmente. A previsão é que ela esteja concluída até segunda-feira (01 de março) e que o prédio seja liberado na terça-feira (02 de março).

FUNCIONÁRIOS RECOLHEM DOCUMENTOS
Afastado o risco de desabamento, funcionários da Eletrobrás que foram distribuídos em prédios da própria empresa, da Eletronuclear e de Furnas, puderam subir até o nono andar para recolher documentos, arquivos e disquetes.

PRÉDIOS E RUAS LIBERADOS NA REGIÃO
Dos oito prédios que foram evacuados devido ao incêndio, somente dois permanecerão vazios, o número 417 da Avenida Presidente Vargas, que está sendo utilizado pelos bombeiros para o trabalho de limpeza e o da CBF, que fica na Rua da Alfândega´.
As avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, fechadas parcialmente, por onde circulam mais de 200 mil veículos por dia , foram liberadas no sábado após a as operações de rescaldo do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil do Município fossem concluídas.

HÁ MUITA ÁGUA NOS ANDARES INCENDIADOS
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) chamou a atenção para a grande quantidade de água usada para o combate às chamas, que agora se acumula nos andares.

CAUSA PROVÁVEL
As causas do incêndio ainda são desconhecidas, mas muito provável é curto-circuito.

CORPO DE BOMBEIROS
Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros da capital, Francisco Bragança, 11 quartéis, 21 viaturas operacionais e quatro ambulâncias estão fazendo o controle do fogo. Onze carros-pipas fizeram o abastecimento dos bombeiros

MATERIAL EMPREGADO:
Inicialmente foi utilizado somente o sistema preventivo da edificação e, posteriormente, estabelecido 04 (quatro) frentes principais de combate.

RECURSOS HÍDRICOS:
Havia recursos hídricos suficientes no local para abastecimento das viaturas e utilização dos sistemas preventivos das edificações próximas. Foram utilizados, principalmente, um hidrante de coluna situado próximo à Rua Primeiro de Março interligado a uma bomba-reboque (Rosembauer), o reservatório superior da edificação sinistrada, o reservatório superior da edificação localizada na esquina da Rua da Alfândega com Avenida Rio Branco.
Posteriormente os funcionários da CEDAE compareceram ao local e executaram manobras hidráulicas, para manter os hidrantes de coluna da área “em carga”.

PERÍCIA : LAUDO FINAL - CONCLUSÃO
De acordo com a perícia realizada pelo Instituto de Criminalista Carlos Éboli (ICCE), falhas na instalação do sistema elétrico do andar provocaram o curto-circuito. O relatório final sobre as causas do incêndio é assinado por três peritos do ICCE e ficou concluído em junho de 2004.

Para os peritos, a instalação elétrica sob o piso elevado do 17o andar apresentava problemas, como emendas e cabos torcidos. Foi nesse local, próximo ao primeiro pilar interno, que o fogo começou por volta de 4 h 30 min do dia 26. Funcionários da empresa e do edifício foram ouvidos durante a elaboração do laudo.
O ICCE descobriu ainda que do sexto até o 22o andar do prédio não existiam detectores de fumaça ou sistema automático contra incêndio, que poderiam controlar mais rapidamente as chamas.

Fontes: Folha de São Paulo, O Dia –RJ, JB Online, O Globo, no período de 26 de Fevereiro a 14 de Junho de 2004 e relatório de Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro - Relatório do 1º Ten BM Guastini - Comandante do 1º Socorro do GOCG - Publicado em: 2004-03-10


COMENTÁRIO
Análise da ocorrência com dados obtidos do relatório do Corpo de Bombeiros, disponível no site da Corporação
■04 h 45min da manhã – Corpo de Bombeiros foi acionado
■04 h 50 min – chegada ao local do incêndio, e a segurança do prédio informa da existência de um foco de fumaça não identificada no 17o andar
Inicia-se a subida para o 14o andar para evitar a fumaça e posteriormente para 17o andar (origem do foco de incêndio).
■05 h 20 min – Chegada ao 17o andar - Os bombeiros constata que o local tem muita fumaça.
■05 h 30 min – Os bombeiros conseguiram identificar o foco do incêndio, inicia-se o combate ao fogo, com hidrante do 18o andar (tempo estimado, houve dificuldade dos bombeiros para acessar o andar, arrombamento de portas)
O comandante constata da dificuldade de controlar o foco, ordenou a uma viatura buscar na unidade do Corpo de Bombeiros, mais cilindros de ar para os aparelhos de respiração autônoma e providenciasse para que a plataforma mecânica (equipamento mais elevado) viesse para o local.
Entre a ida e vinda da viatura para o local, com os cilindros , tempo gasto estimado – 30 min
Tempo gasto para levar os cilindros para 17o andar – 10 min
Tempo gasto para chegada da plataforma – 20min
Com a chegada da plataforma, conforme relatório do CB, subentende-se, que a plataforma ficou em sobre-aviso no local designado para eventual utilização
■ 6 h - Enquanto isso, no andar em chamas, os cilindros de ar, são utilizados pelos bombeiros
■Entre 6 h – 7 h – Houve uma explosão “flash over” segundo o comandante da operação, mas é muito provável que seria “backdraft” (combustão instantânea muito rápida de gases emitidas por materiais que estão queimando na condição de insuficiência de oxigênio)
■ 7 h 15 min – O comandante da operação naquele momento informa ao Centro de Operações a real situação, solicitando reforços para o auxílio no combate, bem como a presença do Maj Diretor de Operações e executando também a evacuação das edificações próximas.
Entre a chamada do Corpo de Bombeiros (4 h 45 min) e o reconhecimento que o incêndio estava descontrolado e necessitava de reforços (7 h 15 min), demorou quase duas horas e meia para tomar essa decisão.
Os especialistas americanos consideram que o incêndio na fase inicial em que predomina a fumaça é extremamente perigoso devido a concentração de gases em local confinado (insuficiência de oxigênio) que poderá resultar em explosão de fumaça (backdraft). Esse tipo de incêndio é que provoca as principais vítimas entre os bombeiros.
Os bombeiros subestimaram esse tipo de incêndio com predominância inicial de fumaça e demoraram em iniciar o ataque frontal.

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posted by ACCA@9:56 PM

1 Comments:

At 11:15 PM, Blogger Michele D. said...

Excelente material!!! Parabens!

 

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