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terça-feira, janeiro 17, 2017

Karoshi-Morte por excesso de trabalho



SUICÍDIO
Matsuri Takahashi tinha 24 anos e trabalhava na companhia havia sete meses quando pulou da janela de um prédio onde morava --que era da própria Dentsu-- na noite de Natal de 2015.
O caso veio à tona depois da decisão do Ministério do Trabalho japonês de processar a empresa pela morte dela.
O governo chegou a fazer uma investigação e uma varredura na Dentsu para obter informações sobre as práticas de trabalho. Foi determinado que a empresa descumpriu as leis trabalhistas e, portanto, tem responsabilidade legal pela morte da jovem.
A empresa admitiu que cerca de 100 trabalhadores ainda faziam cerca de 80 horas extras por mês.

EXAUSTA
As mortes por excesso de trabalho são um problema tão grande no Japão que já existe até um termo para descrevê-las: "karoshi".
Antes de se matar, Takahashi deixou um bilhete para a mãe, no qual escreveu: "você é a melhor mãe do mundo, mas por que tudo tem que ser tão difícil?".
Semanas antes da morte, ela escreveu uma mensagem nas redes sociais em que dizia: "quero morrer". Em outra, alertava: "estou física e mentalmente destroçada".
Contratada em abril do ano passado, a jovem chegava a fazer cerca de 105 horas extras por mês.
Além disso, a família acusou a empresa de obrigá-la a registrar menos horas do que de fato trabalhava. Em muitos casos, o registro mostra que ela trabalhou 69,9 horas por mês, perto do máximo de 70 horas permitidas, mas a cifra era bem maior.

CARGA HORÁRIA
Takahashi havia acabado de se formar na prestigiosa Universidade de Tóquio e expunha as condições duras de trabalho na sua conta no Twitter, onde detalhava jornadas de até 20 horas diárias.
A carga horária disparou em outubro de 2015, quando ela só chegava em casa por volta de 5h, depois de ter trabalhado dia e noite. Além disso, ela não teve nenhum dia de folga em sete meses.

RENÚNCIA
O presidente da principal agência de publicidade do Japão anunciou sua renúncia ao cargo após o suicídio de uma funcionária que se dizia física e mentalmente exausta por causa do excesso de trabalho.
Tadashi Ishii liderava a Dentsu,  gigante nipônica de publicidade, e assumiu a responsabilidade pela morte da jovem. Ele afirmou que vai tornar a renúncia efetiva na próxima reunião da diretoria da empresa, em janeiro. "Lamento profundamente não ter prevenido a morte da nossa jovem funcionária por excesso de trabalho e ofereço minhas sinceras desculpas", disse Ishii.

OUTROS CASOS
A morte de Takahashi não foi a única por esse motivo no quadro de funcionários da Dentsu.
As autoridades concluíram que o falecimento de um jovem de 30 anos, ocorrido em 2013, também teria ocorrido pelo mesmo motivo.
Antes disso, o Ministério do Trabalho havia determinado uma mudança nas práticas de trabalho da Dentsu desde o suicídio de outro empregado, Ichiro Oshima, em 1991, também por causa de carga de trabalho excessiva.
A morte de Ichiro foi a primeira a ser oficialmente atribuída ao trabalho em excesso. Ele havia tirado apenas um dia de folga em 17 meses e só conseguia dormir uma média de duas horas por noite.Mesmo assim, a empresa argumentou na Justiça em 1997 que o suicídio havia sido motivado por "problemas pessoais".

MAIS DE 2.000 'KAROSHIS'
O caso de Takahashi reacendeu o debate sobre o karoshi e levou o governo a aprovar, um pacote de medidas destinadas a prevenir novas mortes.
A sociedade japonesa valoriza estilos de vida que incluem uma extrema dedicação à profissão. Dados oficiais apontam que mais de 2.000 pessoas se suicidam anualmente pelo estresse relacionado ao trabalho excessivo.
Mas a quantidade de mortes pode ser maior se considerados problemas de saúde, como falhas cardíacas ou acidentes vasculares cerebrais, também causados pela prática.
Um relatório apresentado pelo governo em outubro revelou que, em 22,7% das empresas analisadas, alguns empregados fazem mais de 80 horas extras todos os meses. Fonte: UOL Economia - 30/12/2016
Comentário:
1 em 4 empresas no Japão os trabalhadores registraram mais de 80 horas extras por mês
Quase 1 em 4 empresas admitiram que alguns funcionários fizeram mais de 80 horas de trabalho por mês, de acordo com o primeiro relatório do país publicado em  7 de outubro de 2016, sobre karoshi, ou morte por excesso de trabalho.
De acordo com a pesquisa, realizada entre dezembro de 2015  e janeiro de 2016, cerca de 10,8% das empresas disseram que alguns trabalhadores tinham excesso de jornada de trabalho de 80 a 100 horas extras por mês, enquanto outros 11,9% disseram que tinham trabalhadores fazendo mais de 100 horas.
O documento é o primeiro de seu tipo no mundo, foi baseado em respostas de 1.743 empresas e 19.583 trabalhadores. Ele foi direcionado a 10.000 empresas e 20.000 funcionários.
O documento foi adotado pelo governo como parte das medidas para combater o karoshi, de acordo com uma lei que entrou em vigor em novembro de 2014.

Por indústria;
Os trabalhadores de TI (Tecnologia de Informação) foram encontrados com excesso de jornada de trabalho;  com 44,4 por cento das empresas de TI que responderam à pesquisa informaram que alguns de seus empregados fizeram mais de 80 horas de horas extras por mês.
Para as organizações acadêmicas, de pesquisa e de engenharia, o número era de 40,5%,
Seguido pelas empresas de transporte e serviços postais, 38,4%.
Enquanto isso, o governo reconheceu 96 mortes por AVC e ataques cardíacos como sendo relacionadas ao trabalho e concedeu  compensação a essas vítimas karoshi no ano fiscal de 2015, terminado em março e ao mesmo tempo concedeu compensação em 93 casos em que as pessoas foram afetadas por stress  relacionados ao trabalho ou por tentativa de suicídio. Especialistas, no entanto, há muito tempo disseram que os critérios utilizados para o regime de compensação do Estado é demasiado estreito e que o número real de pessoas que morrem de excesso de trabalho é muito maior.
De acordo com as estatísticas da Agência Nacional de Polícia, 2.159 pessoas se suicidaram devido, pelo menos em parte, a problemas relacionados ao trabalho em 2015.
O relatório não só contabiliza estatísticas relacionadas, mas dedica um capítulo a como karoshi se tornou uma questão social na década de 1980, levando a movimentos de base para a reforma.
O governo estabeleceu um objetivo de reduzir a porcentagem de funcionários que trabalham mais de 60 horas por semana para 5% da força de trabalho total. Ele também quer que todos os trabalhadores tiram pelo menos 70 por cento de suas férias até 2020.
A lei anti-karoshi obriga os governos central e local a pesquisar vários fatores que envolvem o excesso de trabalho, bem como aumentar a conscientização, reforçar os programas de consulta e auxiliar os grupos de apoio do setor privado.
Estima-se que um trabalhador médio no Japão trabalhou um total de 1.729 horas em 2014 - cerca de 300 horas a mais do que na Alemanha e na França, mas inferior  do que alguns países como os Estados Unidos e a Coréia do Sul. Desde a década de 1990, esse número permaneceu cerca de 2.000 horas entre os trabalhadores que não incluem trabalhadores a tempo parcial. Fonte: Japan Times - 7 de outubro de 2016

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posted by ACCA@3:32 PM