Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Vistoria aponta riscos em plataformas de petróleo da Petrobras

A Petrobras precisa melhorar de forma significativa a manutenção das plataformas, para dar condições mais seguras de trabalho aos profissionais embarcados e prevenir tragédias no mar.
É o que mostram relatório do Ministério Público do Trabalho e levantamento sobre incidentes recentes em embarcações, apurados pelo sindicato dos trabalhadores.

O documento do Ministério Público do Trabalho (MPT), lista irregularidades de diversos níveis de gravidade nas cinco plataformas escolhidas para vistoria em 2013, e em outra fiscalizada em 2012.

Principais problemas encontrados:
■descontrole sobre emissões de gases,
■rotas de fugas mal delineadas,
■despejo de dejetos sem tratamento no mar,
■botes salva-vidas incapazes de salvar,
■ferrugem acentuada,
■controle de manutenção deficiente e
 ■jornadas excessivas de profissionais de saúde foram os problemas que chamaram a atenção do MPT.

As vistorias fazem parte do projeto Ouro Negro, criado em 2011 pelo MPT e promovido em parceria com Marinha, ANP (Agência Nacional do Petróleo e Derivados), Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Ibama e Ministério do Trabalho, para fiscalizar estruturas e condições de trabalho nas plataformas.

As vistorias geraram inquéritos na Procuradoria do Trabalho, que estabelecem prazos para regularização. "As empresas vão nos informando o que é feito, e estamos programando visitas dos peritos", diz Coentro.

Das exigências, ao menos uma ainda não foi estendida a todas as embarcações --evitar vazamento de gases.
■Três episódios foram registrados na bacia de Campos desde novembro pelo Sindicato dos Petroleiros no Norte Fluminense. Houve incêndio nas plataformas P-62 e P-20, ambas lançadas inacabadas no mar, e explosão na P-55, no fim de semana passado.
■Desde dezembro, oito incidentes foram contabilizados no mar dessa bacia, responsável por 80% da produção do petróleo brasileiro.

EMPRESA DIZ IMPLEMENTAR MELHORIAS
Questionada, a Petrobras disse que está "implementando melhorias em práticas de inspeção e de manutenção das plataformas".
Sobre os recentes vazamentos de gás, a Petrobras disse que "todas as plataformas estão adequadas às normas" para "equipamentos nos quais haja gás, garantindo a segurança das pessoas e integridade das instalações".

PROBLEMAS ENCONTRADOS NAS PLATAFORMAS VISTORIADAS

Termo de compromisso: Data: novembro/2013
Objetivo: correção de problemas; manter equipamentos eficazes de detecção de vazamento; realizar inspeção e manutenção periódicas
Prevê  multa  de R$ 5.000,00 em caso de descumprimento

BACIA DE SERGIPE
Deepwater NS23 –Abr/2013
Ferrugem em portas de vedação; rota de fuga mal dimensionadas; botes salva-vidas incompletos; excesso de ruído

BACIA DE CAMPOS
Ocean Winner – Ag/2013
Descumprimento de determinações da Comissão de Prevenção de Acidentes feitas anteriormente, portas de incêndio irregulares, camas com problemas e falta de computadores

P-15/Macaé – Mai/2013
Basculantes sem ligação com sensores de fogo e gás. Dejetos despejados no mar, sem tratamento

P-40 – Jun/2013
Falha de sensores de gases, documentos sobre manutenção desatualizados, ar-condicionado inoperante, corrosão, vazamento de óleo no mar, equipamentos de emergência sem lacre. Reincidência levou a empresa  a ser notificada e a ser processada em ação civil pública.

PHC-1 – Jun/2013
Falta de avaliação sobre vapores resultantes de soldagem ( o que põe em risco a segurança da embarcação, segundo MPT); inexistência de rota de fuga; cozinha e refeitório mal dimensionados;corrosão excessiva; guindaste com problemas estruturais; falta de auxiliar de enfermagem

BACIA DE SANTOS
Cidade de Paraty – Out/2013
Aumento na capacidade de profissionais sem adequação dos planos de emergência; apenas um enfermeiro embarcado, trabalhando, na prática, 24 horas por dia; trabalhador com fratura só foi removido seis dias depois. Fonte:Folha de São Paulo - 23 de fevereiro de 2014

Comentário: Em gerenciamento de riscos devemos lembrar das leis de Murphy e uma delas é crucial, principalmente em plataformas; atividade isolada, complexidade de logística em emergência, distante do continente, etc.
Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
Essas deficiências apontadas nas inspeções vêm ocorrendo desde a década de 90. Estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública – Fundação Oswaldo Cruz, já apontava diversas irregularidades,  em que a Petrobras poderia ter implementado  numa visão mais ampla de gerenciamento de riscos.
Como escreveu o especialista em segurança de petroquímica Trevor Kletz; Os registros de acidentes e análises são fontes importantes para treinamento de pessoal, gerentes, supervisores e operadores, assim eles poderão entender o que acontecerá se não seguirem os procedimentos  recomendados e se não usarem uma boa prática operacional. Mas na prática as lições de acidentes são esquecidas e se repetem após um período de poucos anos.

A Petrobrás tem um histórico de registro de catástrofe na Bacia de Campos;
■ como os acidentes ocorridos na Plataforma de Enchova em 1984 e 1988. O primeiro resultou em 37 óbitos imediatos e o segundo na destruição total do convés e da torre, totalizando um prejuízo de 500 milhões de dólares na época (1997).
■ A P-36 foi a maior plataforma de produção de petróleo no mundo antes de seu afundamento em Março de 2001. A plataforma custou 350 milhões de dólares.
Na madrugada do dia 15 de março de 2001 ocorreram duas explosões em uma das colunas da plataforma, a primeira às 0h22m e a segunda às 0h39m. 175 pessoas estavam no local no momento do acidente das quais 11 morreram, todas integrantes da equipe de emergência da plataforma. Segundo a agência nacional de petróleo (ANP) do Brasil, o acidente foi causado por "não-conformidades quanto a procedimentos operacionais, de manutenção e de projeto.
■ Plataforma P-20 - A produção da plataforma P-20, no campo de Marlim, na Bacia de Campos, da Petrobras, foi interrompida por medida de segurança por causa de um incêndio na unidade, na tarde de quinta-feira, 26 de dezembro de 2013. Segundo a estatal, um dos trabalhadores a bordo na plataforma inalou fumaça e um outro sofreu torção no pé, mas eles passam bem. O trabalhador que sofreu torção no pé foi levado para Macaé. Após o ocorrido, a Petrobras instaurou uma comissão de investigação formada por gerentes, representantes da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e dos empregados. Esta equipe encontra-se a bordo da unidade com o objetivo de apurar as causas do incidente", disse a empresa, em comunicado. Uma otra equipe de engenharia foi deslocada para a P-20 para preparar, no menor tempo possível, um cronograma com todas as ações necessárias para o pleno retorno à operação. Ainda não há previsão para o retorno da produção.
"Todos os sistemas e procedimentos de segurança funcionaram conforme previsto durante a emergência e a habitabilidade da unidade de produção está plenamente preservada", acrescentou a companhia.

A Petrobras possui 130 plataformas (86 fixas e 47 flutuantes) em operação, espalhadas pelos 151mil km² de área exploratória de petróleo. Em média cada plataforma possui de 100 a 200 trabalhadores.

Geralmente os engenheiros responsáveis pelos projetos tecnológicos tendem a subestimar a freqüência dos incidentes que se produzem em situações anormais nos seus cálculos de confiabilidade. Estas situações se distinguem da situação normal apenas por diferenças que podem parecer secundárias, mas que na realidade podem ser fontes bastante graves e frequentes de disfunções. Para estes engenheiros, predomina a visão de que acidentes, principalmente os graves, são eventos raros, gerando a precária inclusão de dispositivos de segurança, tais como redundâncias, critérios específicos para incêndios e layouts que não consideram características de segurança e de emergências que possam contribuir para anular ou mesmo mitigar as conseqüências destes eventos.

Mesmo quando questões de segurança são incluídas no projeto, a sua efetividade dependerá da capacidade real dos equipamentos de resistirem aos diversos cenários potenciais de acidentes. As questões dos dispositivos de segurança já são um problema desde os projetos originais das plataformas, que são instalações bastante complexas e que podem incluir a produção e armazenagem de óleo e gás à alta pressão, a perfuração de poços, e obras de construção e manutenção associado à uma diversidade de atividades tais como;
■partidas de instalações e produção;
■paradas e redução da produção;
■manuseio de equipamentos e materiais perigosos;
■controle manual do processo;
■monitoramento da produção por sistema supervisório;
■manutenções preventivas e corretivas; limpezas de máquinas e equipamentos;
■transporte de materiais; operações manuais e mecânicas de lifting;
■inspeções e testes de equipamentos;
■transporte marítimo e aéreo; cozinha; limpeza; construção e reforma, entre outras.
Isto faz com que nas plataformas de petróleo se concentram de forma única os riscos típicos de muitas atividades de produção e manutenção industriais de refinaria, tratamento e unidades de produção de energia com outros próprios das tarefas relacionadas com a exploração de gás e petróleo, como a perfuração e os poços de produção, associados aos de transporte aéreo (helicópteros) e marítimos, de construção civil nas atividades de reparo, construção e reforma, de mergulhos rasos e, principalmente, profundos. Estas características complexas das plataformas podem intensificar os perigos quando posteriores modificações não previstas desde o início no projeto original ocorrem com vistas à ampliação da capacidade produtiva, ampliando as situações de riscos.

Problemas encontrados na época
■serviços de corte e solda estavam sendo realizados na Plataforma de Enchova, próximos à um local onde havia vazamento de gás
■manutenção corretiva predomina sobre a manutenção preventiva
■falha  em geradores de emergência
As plataformas de petróleo operam com sistemas complexos, com proximidades de conexões, equipamentos, com interações entres eles, resultando em múltiplas e inesperadas interações, gerando novos cenários de riscos de acidentes não previstos no projeto original.

Vídeo
Origem da plataforma de petróleo e seu avanço tecnológico. Vale a pena assistir

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domingo, fevereiro 23, 2014

Número de mortes em acidente com moto sobe em 10 anos

O número de mortes em acidentes de trânsito com motos no Brasil aumentou 263,5% em 10 anos, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), criado pelo Ministério da Saúde.

MORTES
Em 2011, foram 11.268 mortes no país, contra 3.100 usuários de motos mortos em 2001. O Ministério da Saúde informa que os dados de 2011 são os mais recentes disponíveis, visto que o processo de registro de óbito é demorado, levando até dois anos para contabilizar todos os casos.
O salto no número de vítimas fatais em acidentes com motos é bem maior que o aumento do número de mortos por acidentes de trânsito em geral, que envolve carros, motos, caminhões, ônibus, pedestres. Em 2011, foram 42.425 mortes contra 30.524 registradas em 2001 – alta de 39%.

FROTA DE MOTOS AUMENTOU
No mesmo período, a frota brasileira de veículos de duas rodas aumentou 300%, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Similares (Abraciclo), com base em números divulgados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A quantidade de motos emplacadas no Brasil saltou de 4.611.301 unidades, em 2001, para 18.442.413, em 2011.

FATOR HUMANO
Especialistas apontam que o despreparo de motociclistas e motoristas de carro como as principais causas de  acidentes, apesar de não haver pesquisas mais precisas sobre seus motivos no Brasil.
O fator humano está presente em grande parte, além do crescimento rápido da frota. Existe também a falta de habilitação, ignorância sobre regras de segurança, não uso de equipamentos e imprudência associada com falta de políticas de transporte adequadas para o uso da motocicleta no trânsito do país, aponta Júlia Greve, coordenadora do HC em Movimento, um programa de prevenção de acidentes do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Segundo os médicos do Hospital das Clínicas,  a maioria das mortes de motociclistas é motivada por lesões na cabeça. Ao instituto são encaminhadas as vítimas sem ferimentos internos, com foco no tratamento ósseo, muscular e de articulações.

AFASTADO DO TRABALHO
Usuário de motos há mais de 15 anos, MGC, de 46 anos, faz tratamento desde 2011 no HC, após sofrer uma queda. "Estava em uma via de mão dupla quando apareceu um carro com farol de xênon. Com a luz nos olhos não vi nada e acabei batendo em um caminhão que estava estacionado", explica César, que está afastado do trabalho de prensista devido a sequelas do acidente. Ele diz que buscou na moto uma alternativa para o transporte público falho. "Meu trabalho ficava a 25 km de casa e não tinha como ir de ônibus, pois era muito fora de mão", relata o baiano radicado em São Paulo. "Fazia este percurso há mais de dez anos e nunca aconteceu nada".
Ainda tentando se recuperar de lesão que comprometeu os movimentos da mão direita, ele afirma que não vai deixar de andar de moto. "Quem anda de moto é igual a peão de rodeio: mesmo caindo, não tem como abandoná-la", diz. “Não me arrependo de andar de moto, porque nunca fui imprudente. Não sou de abusar e andar correndo."

INTERNAÇÕES CUSTAM R$ 96 MILHÕES
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2011 houve 155.656 internações por acidentes de trânsito, com custo de R$ 205 milhões. Os acidentes de moto corresponderam a 77.113 delas, totalizando gasto de R$ 96 milhões.

Marcelo de Rezende, médico do IOT (Instituto de Ortopedia e Traumatologia)e coordenador do HC (Hospital das Clínicas) em Movimento, afirma que 44% dos atendimentos no pronto-socorro do HC são de motociclistas.
Segundo ele, o atendimento rápido da vítima é crucial. "Normalmente, o indivíduo chega ao local e fica esperando para fazer o tratamento, pois nem sempre existe um especialista para seu caso. A rapidez no atendimento traz menos infecção, recuperação mais rápida e menor quantidade de sequelas", esclarece Rezende.

MOTOCICLISTA NÃO VÊ SITUAÇÃO DE RISCO
Para o médico, o motociclista não vê a situação de risco e 80% dos acidentados dizem que não tiveram culpa. O motoboy MT, outro que está em tratamento no HC, foge dessa regra: "A culpa foi minha, não vi o carro e bati nele".
Com 10 anos de profissão, o motoboy  sofreu uma fratura no fêmur após queda com a moto. Este foi seu acidente mais grave, de três que já teve. Apesar da lesão severa, também não pensa em deixar a moto. Não quero morrer em cima de uma moto, mas com certeza vou continuar andando, explica.

O médico Rezende também é motociclista, com 29 anos de experiência. "É um transporte mais perigoso, sem dúvida. Quem quiser utilizá-lo tem de fazer uma direção defensiva. São vários conceitos, desde a velocidade que se deve andar até o local".

PERFIL DOS ACIDENTADOS
"A maioria dos acidentados vem de uma classe baixa economicamente, tem de 18 a 30 anos e cerca de 50% usa a moto como meio de transporte", diz Rezende, traçando um perfil dos motociclistas atendidos no HC.
Cerca de 30% de nossos atendimentos são de fora do estado de São Paulo. Não existem centros como este para tratamento especializado espalhados pelo país, diz o médico Rezende.
RMT, de 30 anos, veio do Amazonas para tratar a mão no local. "Um pedestre bêbado atravessou minha frente e acabei caindo", explica.

POLÊMICA DO CORREDOR
Para a médica Júlia Greve, o deslocamento de motos nos chamados "corredores", o espaço  entre duas filas de outros veículos, é agravante nos acidentes. "Principalmente na velocidade em que se anda quando os outros veículos também estão em movimento", opina.
De acordo com o Denatran, o artigo que previa a proibição de motos no corredor foi vetado em 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar de não ser ilegal o uso do corredor, o órgão alerta que as motos devem seguir as regras de circulação geral de todos veículos e que deixar de guardar distância de segurança, lateral ou frontal, de outro veículo pode ser interpretado com infração e o usuário pode ser multado, o que, na prática, não se observa nas ruas brasileiras.
"Se o corredor for proibido vai aumentar o número de mortes de motociclistas. Sem mencionar o caos no tráfego urbano", afirma André Garcia, instrutor de pilotagem, advogado e especialista em gestão de trânsito.
"No Brasil, o motociclista é marginalizado pelo próprio estado. Se em países como França, Itália, Espanha a motocicleta é vista como um importante veículo para tornar eficaz a política de mobilidade, o Brasil caminha na contramão", acrescenta.
Na Europa, apesar de algumas vias  serem restritas à circulação de motos no corredor, o ato é comum na Itália, França e Espanha. Nos Estados Unidos, onde as leis de trânsito são diferentes em cada estado, o chamado "lane splitting" é permitido apenas na Califórnia. Apesar do endurecimento americano para a circulação nos corredores, muitos estados não obrigam todos os motociclistas a usar capacete.
  
ESTATÍSTICA

Acidentes com motos no Brasil
Ano
Frota de motos
Mortes com motos
Total de mortos no trânsito
2001
4.611.301
3.100
30.524
2002
5.367.725
3.744
32.753
2003
6.221.579
4.271
33.139
2004
7.123.476
5.042
35.105
2005
8.155.166
5.974
35.994
2006
9.446.522
7.126
36.367
2007
11.158.017
8.078
37.407
2008
13.084.099
8.898
38.237
2009
14.695.247
9.268
37.594
2010
16.500.589
10.825
40.610
2011
18.442.413
11.268
42.425

Fonte: G1-02/06/2013

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segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Guard rail atravessa carro e mata

Duas mulheres morreram em um acidente na SC-401, em Florianópolis, na manhã de sábado (15 de fevereiro). Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o veículo saiu da pista e bateu em um guard rail, que atravessou o veículo com o impacto. O acidente ocorreu em uma curva, abaixo do elevado do bairro Itacorubi, por volta das 7h30.

MOTORISTA PERDEU A DIREÇÃO
Conforme relatado por testemunhas, o condutor se perdeu em uma curva e bateu na estrutura quebrando parte dela. Depois, o veículo foi atravessado pelo guard rail que entrou na área do motor e saiu pelo vidro acima do porta-malas.

VÍTIMAS
De acordo com o Corpo de Bombeiros, duas das vítimas morreram e já estavam sem vida quando o resgate chegou ao local. MTO, de 32 anos, e CB, de 17, eram passageiras do Celta com placas de Palhoça,  conduzido por um homem de 26 anos. Eles vinham do Norte da Ilha em direção ao Centro de Florianópolis.
Conforme os Bombeiros, o condutor do veículo foi encaminhado em estado grave ao Hospital Celso Ramos, em Florianópolis, com suspeita de hemorragia e fratura nas costelas. Os socorristas relataram ainda que outro passageiro também se feriu no acidente e foi levado por uma equipe do Serviço Móvel de Urgência (Samu) ao hospital.

CAUSA DO ACIDENTE
A Polícia Militar Rodoviária ainda não sabe afirmar a causa do acidente, mas tem duas suspeitas: excesso de velocidade ou que o condutor tenha dormido ao volante.  

ALTA DO HOSPITAL
O passageiro do carro  deixou hospital Governador Celso Ramos no fim da tarde de sábado. DPC, natural de São José, fraturou o braço no acidente, mas não teve ferimentos graves.  

Continua internado CGM, 26 anos, motorista do carro, no hospital Governador Celso Ramos. Ele deu entrada em estado grave e as primeiras impressões apontavam para a internação na UTI, que não foi necessária. Conforme informações do hospital, o motorista permanece estável e saiu do setor de reanimação. Ele está em observação e aguarda parecer de um médico ortopedista sobre a necessidade de cirurgia. Ele ainda não tem previsão de alta do hospital.
Fontes: G1 SC-15/02/2014 e Diário Catarinense - 15/02/2014

Comentário: :  Na transição defensa metálica e barreira de concreto não pode ter bordas cortantes como aparece na foto. Essa borda cortante funciona como se fosse um abridor de latas (penetração na lataria).
A defensa metálica deveria ser unida a barreira de concreto, com duas laminas para ser mais rígidas e parafusadas. Também pode ser protegidas com ponteiras especiais.
Requisitos dos dispositivos de segurança
O dispositivo de segurança tem a finalidade de reconduzirá pista os veículos desgovernados, com desaceleração suportável pelo organismo humano e com um mínimo de danos ao veiculo.
Finalidade dos dispositivos de segurança
1.Impedir a transposição e o tombamento (roll-over)
2.Ausência de penetração de elementos do dispositivo no veículo (no caso dessa colisão houve penetração)_
3.Desacelerações limitadas no veículo e no motorista
4.Deformações limitadas do veículo
5.Fazer o Redirecionamento do veículo

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segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Auxílios-doença aos usuários de droga triplicam no mercado de trabalho

Por anos, o eletricista C WPF, de 35 anos, conciliou a rotina de trabalho com o vício do álcool e da cocaína. Em 2011, um aumento no consumo das duas drogas levou o profissional a apresentar sintomas como perda de raciocínio e coordenação, e fez com que ele fosse demitido da multinacional onde trabalhava. Nessa época, ele ingeria três litros de álcool por dia e chegou a ter duas overdoses. Em busca de ajuda, internou-se em uma clínica de reabilitação e, desde 2012, recebe um auxílio-doença mensal no valor de R$ 1.500. Isso fez com que ele entrasse em uma estatística preocupante que vêm crescendo nos últimos anos. O consumo de drogas no Brasil não só cresce, como também afasta cada vez mais brasileiros do mercado de trabalho.

AUMENTO DE AUXÍLIOS-DOENÇA
■Nos últimos oito anos, o total de auxílios-doença relacionados à dependência química simultânea de múltiplas drogas teve um aumento de 256%, pulando de 7.296 para 26.040.
■No mesmo período, o benefício concedido a viciados em cocaína e seus derivados, como crack e merla, também mais do que triplicou. Passou de 2.434, em 2006, para 8.638, em 2013, num crescimento de 254%.
■O uso de maconha e haxixe resultou, por sua vez, em auxílio para 337 pessoas, em 2013, contra 275, há oito anos. Os dados inéditos são do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Ao todo, nos últimos oito anos, a soma de auxílios-doença concedidos a usuários de drogas em geral, como maconha, cocaína, crack, álcool, fumo, alucinógenos e anfetaminas, passou de um milhão. Só em 2013, essa soma alcançou 143.451 usuários.

GASTOS COM TODAS AS DROGAS
Segundo o INSS, o total gasto em 2013 com auxílios-doença relacionados a cocaína, crack e merla foi de R$ 9,1 milhões. Os benefícios pagos a usuários de mais de uma droga somaram R$ 26,2 milhões. E a cifra total, relativa a todas as drogas (incluindo álcool e fumo), chegou a R$ 162,5 milhões.

VALOR DO AUXÍLIO-DOENÇA
O auxílio-doença varia de R$ 724 a R$ 4.390,24, de acordo com o salário de contribuição do segurado. O valor mensal médio pago a um dependente químico de cocaína e seus derivados é de R$ 1.058, e a duração média de recebimento é de 76 dias. Para ter direito, o segurado precisa de autorização de uma perícia médica e de atestados e exames que comprovem tanto a dependência química quanto a incapacidade para o trabalho. O tempo de recebimento do benefício é determinado pelo perito.

O CONSUMO DA DROGA JÁ SE TORNOU EPIDEMIA
A presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), a psiquiatra Ana Cecilia Petta Roselli Marques, observou que, por conta do aumento do consumo de cocaína e crack, era esperado que houvesse um impacto também no mercado de trabalho brasileiro. A última edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostrou que, entre 2006 e 2012, duplicou o consumo de cocaína e seus derivados no Brasil. A pesquisa mostrou ainda que um em cada cem adultos consumiu crack em 2012, o que faz do país o maior mercado mundial do entorpecente. Na avaliação da psiquiatra, o consumo da droga já se tornou epidemia.

— Era esperado que tivesse um impacto no mercado de trabalho do país, com repercussões, por exemplo, em auxílios-doença para cuidar da saúde. Por conta do uso, o trabalhador adoece cada vez mais cedo, principalmente do sistema cardiovascular. E há também a questão da mortalidade precoce. É uma epidemia, o que é visto pelo número de casos novos na população ao longo dos anos —explicou Ana Cecília.

■No ano passado, apenas os estados de Alagoas, Roraima e Sergipe não tiveram aumento do número de auxílios-doença relacionados ao uso de drogas em relação a 2012.
■Em São Paulo, estado que historicamente concentra o maior número de beneficiados, o total de auxílios-doença passou de 41 mil para 42.649.
■Na sequência, estão Minas Gerais (de 18.527 para 20.411),
■Rio Grande do Sul (de 16.395 para 16.632),
■Santa Catarina (de 13.561 para 14.176),
■Paraná (de 9.407 para 10.369) E
■No Rio de Janeiro, que historicamente é o sexto estado que mais concede auxílios-doença relativos a drogas, o pagamento do benefício cresceu 10% em 2013, passando de 6.577, em 2012, para 7.234. No mesmo período, a quantidade de benefícios concedidos a dependentes químicos de cocaína e crack teve um aumento de 25,2%, crescendo de 471 para 590.

CONSUMO DE CRACK E COCAÍNA TÊM AUMENTADO NOS ÚLTIMOS ANOS
O diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, observa que o Brasil é um dos poucos países em que o consumo de crack e cocaína têm aumentado nos últimos anos.

— As pesquisas mostram que há, nos domicílios brasileiros, um milhão de usuários de crack e 2,6 milhões de usuários de cocaína. E uma parcela dessas pessoas trabalha. Então, não há dúvida de que tem um impacto no mercado de trabalho.

ATENDIMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Em virtude do aumento da dependência química, o Ministério da Saúde informou que aumentará neste ano a capacidade de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) 24 horas. Atualmente, o Brasil tem 47 unidades em funcionamento, com capacidade para 1,6 milhão de atendimentos por ano. O governo federal afirma que vai construir mais 132 unidades até o fim do ano, elevando a capacidade para 6,1 milhões de atendimentos anuais. Fonte: O Globo - 10/02/2014

Comentário:
Dados do Levantamento de Uso de Drogas e Saúde no Brasil
Segundo cálculos do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), o Brasil perde por ano US$ 19 bilhões por absenteísmo, acidentes e enfermidades causadas pelo uso do álcool e outras drogas por trabalhadores.
O uso indevido de álcool e outras drogas está relacionado com:
■Cinco vezes mais chances de ocorrer acidentes de trabalho.
■Três vezes mais licenças médicas do que as concedidas para outras doenças.
■50% do total de absenteísmo e licenças médicas.
■Oito vezes maior a utilização de diárias hospitalares.
■Três vezes maior a utilização de assistência médica e social das empresas por parte  dos familiares.
Entrevista muita extensa, porém muita interessante para compreender a dependência química. Entrevista com o médico Drauzio Varella e convidado.  Vale a pena ler.

DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Ronaldo Laranjeira é médico psiquiatra, coordena a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e é PhD em Dependência Química na Inglaterra.

As drogas acionam o sistema de recompensa do cérebro, uma área encarregada de receber estímulos de prazer e transmitir essa sensação para o corpo todo. Isso vale para todos os tipos de prazer – temperatura agradável, emoção gratificante, alimentação, sexo – e desempenha função importante para a preservação da espécie.

Evolutivamente o homem criou essa área de recompensa e é nela que as drogas interferem. Por uma espécie de curto circuito, elas provocam uma ilusão química de prazer que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente. Com a repetição do consumo, perdem o significado todas as fontes naturais de prazer e só interessa aquele imediato propiciado pela droga, mesmo que isso comprometa e ameace a vida do usuário.

MECANISMO GERAL DA DEPENDÊNCIA
Drauzio – Que mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência da droga?
Ronaldo Laranjeira – Acho importante destacar que existe, no cérebro, uma área responsável pelo prazer. O prazer, que sentimos ao comer, fazer sexo ou ao expor o corpo ao calor do sol, é integrado numa área cerebral chamada sistema de recompensa. Esse sistema foi relevante para a sobrevivência da espécie. Quando os animais sentiam prazer na atividade sexual, a tendência era repeti-la. Estar abrigado do frio não só dava prazer, mas também protegia a espécie. Desse modo, evolutivamente, criamos essa área de recompensa e é nela que a ação química de diversas drogas interfere. Apesar de cada uma possuir mecanismo de ação e efeitos diferentes, a proposta final é a mesma, não importa se tenha vindo do cigarro, álcool, maconha, cocaína ou heroína. Por isso, só produzem dependência as drogas que de algum modo atuam nessa área. O LSD, por exemplo, embora tenha uma ação perturbadora no sistema nervoso central e altere a forma como a pessoa vê, ouve e sente, não dá prazer e, portanto, não cria dependência.

Vários são os motivos que levam à dependência química, mas o final é sempre o mesmo. De alguma maneira, as drogas pervertem o sistema de recompensa. A pessoa passa a dar-lhes preferência quase absoluta, mesmo que isso atrapalhe todo o resto em sua vida. Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam significado todas as outras fontes de prazer.

Drauzio – Você diz que a evolução criou, no cérebro, um centro de recompensa ligado diretamente à sobrevivência da espécie. As abelhas, quando pousam numa flor e encontram néctar, liberam um mediador chamado octopamina, neurotransmissor presente nas sensações de prazer. Esses mecanismos são bastante arcaicos?
Ronaldo Laranjeira  – O sistema de prazer é muito primitivo. É importante para as abelhas e para os seres humanos também. A droga produz efeito tão intenso porque age nesses mecanismos biológicos bastante primitivos.

Drauzio – Mecanismos tão arcaicos assim representam uma armadilha poderosa. Na verdade, provoca-se um estímulo forte que está mexendo com milhares de anos de evolução.
Ronaldo Laranjeira – Acho que estamos cada vez mais valorizando esse tipo de mecanismo. A droga é um fenômeno psicossocial amplo, mas que acaba interferindo nesse mecanismo biológico primitivo.

DEPENDÊNCIA É UM PROCESSO DE APRENDIZADO
Drauzio – A maioria das pessoas bebe com moderação, mas algumas fazem uso abusivo do álcool. Há quem fume maconha ou use cocaína esporadicamente, mas existem os que fumam crack o dia inteiro. O que explica essa diferença? A resposta está na droga ou no usuário?
Ronaldo Laranjeira  – Parte da resposta está na tendência ao uso crônico e na história de cada pessoa. Quando começou a usar? Como interpreta os sintomas da síndrome de abstinência? Além disso, o que vai fazer com que repita a experiência não é só a busca do prazer, mas a tentativa de evitar o desprazer que a ausência da droga produz.

A dependência é um processo de aprendizado. O fumante, por exemplo, pela manhã já manifesta sintomas da abstinência. Fica irritado e sua capacidade de concentração baixa. Ele fuma, o desconforto diminui. Vinte minutos depois, o nível de nicotina no cérebro cai, voltam os sintomas da abstinência e ele vai aprendendo a usar a droga pelo efeito agradável que proporciona e para evitar o desprazer que sua falta produz.
A dependência é fruto, então, do mecanismo psicológico que a um só tempo induz o indivíduo a buscar o prazer e evitar o desprazer, e fruto das alterações cerebrais que a droga provoca. Essa interação entre aspectos psicológicos e efeito farmacológico vai determinar o perfil dos sintomas de abstinência de cada pessoa. A compulsão é menor naquelas que toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas que a inquietação é intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência.

Resumindo: a dependência química pressupõe o mecanismo psicológico de buscar a droga e a necessidade biológica que se criou no organismo. Disso resulta a diversidade de comportamentos dos usuários.
A maconha é um bom exemplo. Seu uso compulsivo hoje é maior do que era há 20, 30 anos e, de acordo com as evidências, quanto mais cedo o indivíduo começa a usá-la, maior é a possibilidade de tornar-se dependente. Como garotos de 12, 13 anos e, às vezes, até mais novos, estão usando maconha, atualmente o problema se agrava. Além disso, as concentrações de THC (princípio ativo da maconha) aumentaram muito nos últimos tempos. Na década de 1960, andavam por volta de 0,5% e agora alcançam 5%. Portanto, a maconha de hoje é 10 vezes mais potente do que era naquela época.

Diante disso, a Escola Paulista de Medicina sentiu a necessidade de montar um ambulatório só para atender os usuários de maconha e há uma lista de espera composta por adolescentes e jovens adultos desmotivados, que fumam seis, sete baseados por dia e não conseguem fazer outra coisa na vida. Isso não acontecia quando a concentração de THC era mais fraca e o acesso à droga mais restrito.

Drauzio - Quando se conversa com usuários de maconha de muitos anos, eles lastimam que a droga tenha perdido a qualidade. Sua explicação prova exatamente o contrário. Terão essas pessoas desenvolvido um grau de tolerância maior à droga?
Ronaldo Laranjeira  - Acho que a queixa é fruto de um certo saudosismo, uma vez que há tipos de maconha, entre eles o skank, que chegam a ter 20% de THC. Na Holanda, foram desenvolvidas cepas que contêm maior concentração desse princípio ativo, o que faz com que a maconha perca a classificação de droga leve e se transforme numa substância poderosa para causar dependência. Deve-se considerar, ainda, como justificativa da queixa que o uso crônico causa sempre certa tolerância.

Drauzio - No Carandiru, minha experiência mostra que há quem fume um baseado a cada 30 minutos. Uma droga que exija tal frequência de consumo não pode ser considerada leve, não é verdade?
Ronaldo Laranjeira  – Infelizmente não existem drogas leves, se produzirem estímulo no sistema de recompensa cerebral. Em geral, as pessoas perguntam: mas se a droga dá prazer, qual é o problema? O problema é que ela não mexe apenas na área do prazer. Mexe também em outras áreas e o cérebro fica alterado. Diante de uma fonte artificial de prazer, ele reage de modo impróprio. Se existe a possibilidade de prazer imediato, por que investir em outro que demande maior esforço e empenho? A droga perverte o repertório de busca de prazer e empobrece a pessoa. Comer, conversar, estabelecer relacionamentos afetivos, trabalhar são fontes de prazer que valorizamos, mas não são imediatas.

CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DOS USUÁRIOS
Drauzio – O uso crônico do álcool provoca uma série de alterações que todo mundo conhece e reconhece. Em relação às outras drogas, de acordo com sua experiência pessoal e não com as definições dos livros, quais as principais características do usuário?
Ronaldo Laranjeira  – No ambulatório da Escola Paulista de Medicina que atende usuários de maconha, pude notar que há dois grupos distintos. Um é constituído por jovens que perderam o interesse por tudo o que faziam. Não estudam nem trabalham. Estão completamente desmotivados. É o que chamamos de síndrome amotivacional. O nome é feio, mas pertinente. O outro grupo é formado por pessoas nas quais se estabelece uma relação complexa entre maconha e doenças mentais como psicose e depressão. Não se sabe se a maconha produz a doença mental. O que se sabe é que ela piora os sintomas de qualquer uma delas, seja ansiedade ou esquizofrenia.

AÇÃO E EFEITO DAS DIFERENTES DROGAS
Drauzio -Teoricamente, quando a pessoa ansiosa fuma maconha, fica mais relaxada. Você acha que isso é um mito?
Ronaldo Laranjeira  – É importante distinguir, na droga, o efeito imediato do efeito cumulativo. No geral, sob a ação da maconha, a pessoa ansiosa relaxa um pouco, mas esse é um efeito de curto prazo. O álcool também relaxa num primeiro momento. No entanto, as evidências demonstram que nas pessoas ansiosas seu uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, porque o cérebro reage tentando manter o sistema em equilíbrio. É o efeito de homeóstase. Se alguém usa um estimulante, passado o efeito, o cérebro não volta ao funcionamento normal imediatamente. Surge o efeito rebote. Isso ocorre com qualquer droga. Tanto com a maconha quanto com o álcool, findo o efeito depressor, o efeito rebote elevará os níveis de ansiedade.

Drauzio – Como age a maconha na memória?
Ronaldo Laranjeira  - A maconha diminui a concentração, a memória e a atenção. É um efeito bastante rápido. Estudos mostram que, se alguém usar maconha num dia e medir os níveis de memória e concentração no outro, eles estarão ligeiramente alterados. Isso tem um impacto bastante negativo na vida dos adolescentes.
Na verdade, não há droga que melhore o desempenho intelectual. Nós sabemos que pessoas criativas usam drogas e produzem coisas criativas. Se elas não fossem criativas por natureza, não haveria droga no mundo capaz de produzir esse resultado.

Drauzio - Quais são os efeitos crônicos da cocaína?
Ronaldo Laranjeira – Em relação à saúde, o efeito mais grave da cocaína são os problemas cardíacos e cardiovasculares. Quando associada ao álcool, então, ela é uma das principais causas de infarto do miocárdio em adultos jovens.

ASSOCIAÇÃO PERIGOSA DA COCAÍNA COM O ÁLCOOL
Drauzio – Por que o usuário de cocaína bebe tanto?
Ronaldo Laranjeira  – De alguma forma, o álcool faz com que a pessoa se sinta mais liberada e use cocaína, um estimulante potente. Para diminuir a excitação, ela torna a beber e, como num círculo vicioso, a usar cocaína. A confusão cerebral aumenta consideravelmente e a tendência é beber ou cheirar mais. Trata-se de uma reação perturbadora em que o álcool incentiva o consumo de cocaína e vice-versa.

Drauzio – Fico assustado com a quantidade de bebida destilada que o usuário de cocaína consome.
Ronaldo Laranjeira  – A cocaína aumenta a resistência ao álcool, porque um pouco de seu efeito depressor é atenuado pela cocaína. Por outro lado, a pessoa tolera quantidades maiores de álcool, porque precisa abrandar os efeitos altamente excitantes da cocaína.
Sempre é válido repetir que álcool e cocaína representam uma das associações de drogas mais perigosas que existem. Ao que parece, tal associação dá origem a uma terceira molécula extremamente tóxica para cérebro e para o músculo cardíaco.

Drauzio – No Carandiru, vi meninos de 20 e poucos anos com infarto do miocárdio ou derrame cerebral puxando o braço ou a perna depois de uma seção de crack ou de uma overdose de cocaína. Isso acontece frequentemente?
Ronaldo Laranjeira  – Infelizmente, no Brasil, não há dados precisos sobre o que aconteceu com os usuários de cocaína, porque o sistema médico não é muito coordenado. Se eles existissem, ficaríamos horrorizados.
Tivemos uma pequena experiência acompanhando, por cinco anos, o primeiro grupo de usuários de crack que foi internado em Cidade de Taipas, interior de São Paulo. Era uma população de classe média baixa. No final desse período, 30% tinham morrido em acidentes ou por morte violenta. Nesse caso, as famílias não sabiam dizer quem eram os responsáveis pelas mortes: os traficantes ou a polícia. Não sabemos se isso ocorre com todos os usuários de crack. Temos certeza, porém, de que poucas doenças apresentam esse índice de mortalidade.

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA / EFEITO REBOQUE
Drauzio – Como se manifesta o efeito reboque?
Ronaldo Laranjeira – O mecanismo de recompensa cerebral é importante para a preservação da espécie e ninguém é contra o prazer. Ao contrário, deveríamos estimular o surgimento de inúmeras fontes de prazer. A dependência química, entretanto, cria uma ilusão de prazer que acaba perturbando outros mecanismos cerebrais. Se, fumando um baseado, a pessoa relaxa, findo o efeito, a ansiedade ganha força, pois a síndrome de abstinência é imediata. É o chamado efeito rebote.
A cocaína age de forma diferente. O efeito rebote está na impossibilidade de sentir prazer sem a droga. Passada a excitação que ela provoca, a pessoa não volta ao normal. Fica deprimida, desanimada. Tudo perde a graça. Como só sente prazer sob a ação da droga, torna-se um usuário crônico. Às vezes, tenta suspender o uso e reassumir as atividades normais, mas nada lhe dá prazer. Parece que, por vingança divina, o cérebro perdeu a capacidade de experimentar outras fontes que não a desse prazer artificial que a droga proporciona.

Essa é uma das tragédias a que se expõem os dependentes químicos. No processo de reabilitação, quando a pessoa pára de usar droga, é fundamental ajudá-la a reencontrar fontes de prazer independentes da substância química.

Drauzio – Quem está de fora dificilmente entende o comportamento do dependente. “Esse cara, em vez de estar namorando, indo ao cinema, estudando, fica cheirando cocaína ou fumando crack”, é o que normalmente todos pensam. Isso dá a sensação de que o outro é fraco, com comportamento abjeto, digno de desprezo. Quem está passando por isso, vê a realidade de forma diferente?
Ronaldo Laranjeira  – Na verdade, essa pessoa está doente. Seu cérebro está doente, com a sensação de que não existe outro prazer além da droga. Isso acontece também com o cigarro, uma fonte preciosa de prazer para os fumantes que adiam a decisão de parar de fumar por medo de perdê-la. De fato, 30% dos fumantes, logo depois que se afastam da nicotina, apresentam sintomas expressivos de depressão e precisam ser medicados com antidepressivos.

BUSCA DO PRAZER TOTAL
Drauzio - Você acha que um dia aparecerá uma droga cujo mecanismo de ação se encarregue de nos deixar felizes sem provocar malefícios no cérebro?
Ronaldo Laranjeira  – Não acredito. Fica difícil imaginar uma droga que aja só no centro de prazer sem perturbar os demais mecanismos bioquímicos do cérebro, que é um órgão complexo e evolutivamente preparado para vivenciar muitas formas de prazeres sutis. Para tais estímulos, está aparelhado. Para os advindos das drogas, não.

Drauzio – Você não acha que o homem está sempre à procura do prazer total?
Ronaldo Laranjeira – A busca do prazer é uma característica positiva do ser humano. No caso das drogas, porém, ao querer superar a própria biologia por um artifício grosseiro, ele acaba se empobrecendo. O desejo de intensificar o prazer ao máximo empurra o homem para uma guerra que jamais será vencida.

CAMPANHAS CONTRA AS DROGAS
Drauzio – Quando analisamos as campanhas contra as drogas, verificamos que se baseiam muito nos aspectos negativos dessas substâncias. A ideia é sempre assustar o usuário: “droga mata”. Aí, o garoto fuma um baseado e não morre. Ao contrário, sente-se bem e fica achando que tudo não passa de uma grande mentira. Você acha que o enfoque das campanhas é ingênuo?
Ronaldo Laranjeira – Estamos ainda muito no começo. Na criação de um modelo do que acontece com os usuários de droga, as campanhas estão numa fase bastante embrionária, mas acho que estão certas ao afirmar que drogas fazem mal. Ficar só nisso, porém, é passar uma informação de saúde ingênua e pobre. É preciso dizer como e por que as drogas são altamente prejudiciais ao organismo para que a pessoa tome uma decisão firme, bem alicerçada, e disponha-se a abandoná-las.
As evidências nos mostram que, quando se trabalha com a prevenção, a prioridade deve ser dada aos fatores de risco. Todavia, a partir do momento em que já está instalado o consumo (maconha, nos casos mais comuns), as estratégias teriam de ser bem diferentes.

ORIENTAÇÃO AOS PAIS
Drauzio – Muitas vezes os pais ficam apavorados quando encontram maconha nas coisas dos filhos. Como você orienta quem vive esse problema?
Ronaldo Laranjeira – Na verdade, maconha é a primeira droga ilícita que a pessoa consome, mas antes disso, em geral, já experimentou o álcool e o cigarro. Já não se discute mais que, quanto mais cedo o adolescente entrar em contato com a droga, maior será a probabilidade de “escalar”, isto é, de partir para outras drogas ou intensificar o uso da maconha. É muito difícil prever quem vai ou não embarcar nesse processo. Sabe-se, porém, que quantos mais amigos envolvidos com drogas ele tiver, maior risco correrá do uso tornar-se crônico.
O primeiro passo para enfrentar a situação é os pais se informarem sobre o que está acontecendo na vida dos filhos e voltarem a exercer controle mais efetivo sobre suas atividades. Em geral, esse problema reflete uma certa crise familiar. Por razões diversas, pais e filhos se distanciaram. Por isso, a estratégia básica é levar ao conhecimento dos pais o que está acontecendo com seus filhos e os riscos que eles correm.

Quanto ao adolescente, é complicado conversar sobre esses riscos. A tendência do jovem que já se envolveu com maconha é minimizá-los ao máximo. “Que mal existe em fumar um baseado por semana?” é a pergunta que muitos fazem. Acontece que, na maioria das vezes, quem começou precocemente, no período de seis meses, estará fumando um baseado por dia.
Na entrevista clínica, não dá para antever o caminho que cada um percorrerá no mundo das drogas. Quem já teve o desprazer de acompanhar um adolescente numa entrevista, tranquilizar os pais, dizendo – “Olhem, ele só está usando uma vez por semana. Essa é uma experiência pela qual ele deve passar.” – e, depois de dois anos, ver esse jovem totalmente deteriorado, traficando drogas, fica muito preocupado com o momento certo em que deve interferir. Esse é o desespero dos pais e o dilema dos profissionais: agir na medida exata da necessidade de cada caso. Nem todos precisam de tratamento, mas não se pode deixar escapar aqueles para os quais o acompanhamento clínico é indispensável.

Drauzio – Em que você se baseia para julgar se um garoto, que afirma fumar maconha a cada dois meses , representa risco de tornar-se um usuário crônico?
Ronaldo Laranjeira – É preciso estar atento a três fatores que combinados são sinais de alerta e requerem algum tipo de acompanhamento. O primeiro é atitude por demais tranquila do adolescente que considera a maconha inofensiva e destituída de inconveniências. Depois, é importante considerar a rede social em que está inserido. Os amigos com quem convive são usuários da droga? Por último, deve-se avaliar seu desempenho nas atividades cotidianas. É o caso do bom aluno até os 13 anos, que foi perdendo o interesse pela escola e não reage mesmo diante da ameaça de perder o ano.

PARANOIA ASSOCIADA AO CONSUMO DE DROGAS
Drauzio – A paranoia é um efeito terrível da cocaína. O indivíduo cheira e entra numa crise persecutória alucinante. O que leva alguém a usar uma droga sabendo que irá provocar uma sensação medonha e que nenhum prazer oferece?
Ronaldo Laranjeira – Essa é a essência da dependência química de uma droga. Primeiro aparece o efeito prazeroso e, depois, o desprazer. Com a cocaína, isso é mais intenso. Seu efeito de excitação e de prazer é imediato, ocorre em poucos segundos. Alguns minutos depois, desaparece e surgem os efeitos desagradáveis. Confrontando os dois, prevalece a lembrança dos bons momentos e a pessoa volta a usar a droga. Tive um paciente que injetava cocaína. Suas veias tinham sumido, mas mesmo assim ele não desistia. Expunha-se ao tormento de dezenas de picadas para obter um único resultado positivo que, em sua balança emocional, compensava o sofrimento anterior. Os fumantes têm comportamento parecido. Muitos, mesmo com traqueostomia, não deixam de fumar.

Drauzio - Conheci alguns que, apesar da insuficiência vascular cerebral, ficavam tontos e caíam no chão quando fumavam, mas não desistiam e logo depois acendiam um cigarro outra vez.
Ronaldo Laranjeira - É a força da dependência, um fenômeno diversificado cuja essência é a disfunção cerebral provocada por várias drogas e que se manifesta em pessoas de personalidades diferentes.

Drauzio - A maconha também pode provocar paranoia?
Ronaldo Laranjeira – É menos comum, mas casos de paranoia também ocorrem especialmente em pessoas que já apresentaram algum problema mental. Quem tem um surto psicótico e fuma maconha, por exemplo, faz um péssimo negócio, porque se intensificarão os sintomas dessa doença já estabelecidos anteriormente.
No que se refere à cocaína, nem todos que manifestam esses sintomas desenvolverão a síndrome paranoica. No entanto, quando isso acontece, as consequências são desastrosas. Soube de um usuário de cocaína que, em crise, saiu em disparada por uma estrada, foi atropelado e morreu. Há outros que pegam uma arma e disparam a esmo.

FORÇA PODEROSA DA DEPENDÊNCIA
Drauzio – Muitos usuários garantem que a maconha é uma droga fácil de largar, que não causa dependência. Isso é verdade?
Ronaldo Laranjeira – Cada droga tem um perfil de dependência, e a maconha não é muito diferente das demais. Como já foi dito, atualmente ela está dez vezes mais forte do que era há 30 anos. Por isso, não é tão fácil afastar-se dela, principalmente se a pessoa começou a fumar na adolescência, quando ainda era um ser em formação.
O acompanhamento de usuários de maconha, no ambulatório da Escola Paulista de Medicina, sugere exatamente o contrário. As pessoas conseguem suspender o uso da droga durante alguns dias, mas a vontade fica incontrolável e elas voltam a fumar os baseados.

Drauzio – No Carandiru, examino rapazes com tuberculose que fumam cigarros de nicotina, de maconha e crack. Explico-lhes que eles não podem fumar de jeito nenhum porque seus pulmões estão doentes, muito inflamados. Na semana seguinte, eles me informam que conseguiram suspender o crack e a maconha, mas o cigarro está difícil. Isso se repete nas semanas subsequentes. Tive centenas de casos como esse, que me convenceram de que o cigarro é mais difícil de largar do que as outras drogas. Estou exagerando?
Ronaldo Laranjeira – Embora o efeito da nicotina não seja tão poderoso quanto o da maconha, é muito mais constante. Imaginemos que o fumante dê dez tragadas em cada cigarro e fume vinte cigarros por dia. Feitas as contas, num único dia seu cérebro recebeu um reforço positivo pelo menos duzentas vezes. Cada tragada é igual a uma injeção de nicotina na veia. Esse estímulo, repetido através dos anos, faz com que a dependência de nicotina seja mais poderosa do que as outras. A maconha, no momento, passa por processo semelhante. Mais disponível e mais barata, seu consumo aumentou e, consequentemente, o número de cigarros fumados por dia e os estímulos cerebrais que provocam aumentaram também. Portanto, em termos de dependência, as duas drogas não diferem muito. Pelo atual padrão de consumo, mais fácil, acessível e intenso, maconha e nicotina têm muito em comum. Por isso, não compartilho a ideia de que maconha seja uma droga leve.

Drauzio – O usuário de cocaína diz que deixará de usar a droga quando quiser. No entanto, admite que não poderá vê-la, porque entrará em desespero e a vontade de consumi-la ficará incontrolável. Como se pode explicar esse fenômeno?
Ronaldo Laranjeira  – Ficar longe da droga, quando se está disposto a abandoná-la, faz parte do processo de aprendizado. No exato instante em que a pessoa vê a cocaína, seu cérebro começa a preparar-se para recebê-la e dispara um mecanismo que chamamos de craving ou fissura. Isso vale para qualquer droga. Depois que ficou dependente, é quase impossível alguém ver a droga e resistir ao desejo de usá-la. Por isso, na fase inicial do tratamento, aconselha-se que o usuário se afaste completamente de todos esses estímulos, pois ficará menos difícil lidar com o fenômeno da dependência química. Fonte: Dr. Drauzio Varella

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posted by ACCA@7:30 PM

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