Brasil constrói torre de observação gigante que vai monitorar Amazônia
Maior do que Torre Eiffel, a torre Atto começa a ser erguida no meio da
floresta com equipamentos que permitem analisar mudanças climáticas
COMEÇOU A MONTAGEM
Começou a ser erguida, no coração da selva amazônica, uma
torre de 330 metros de altura que vai monitorar de forma contínua, por pelo
menos 20 anos, as complexas interações entre a atmosfera e a floresta. Repleto
de instrumentos científicos de alta tecnologia, o observatório - que será o
maior e mais completo do gênero no mundo - medirá com precisão sem precedentes
os fluxos amazônicos de calor, água e gás carbônico, além de analisar
minuciosamente os padrões de ventos, umidade, absorção de carbono, formação de
nuvens e parâmetros meteorológicos.
Com o estudo das trocas de massa e energia que ocorrem entre
o solo, a copa das árvores e o ar acima delas, a Torre Alta de Observação da
Amazônia (Atto, na sigla em inglês) deverá gerar conhecimento inédito sobre o
papel do ecossistema amazônico no contexto das mudanças climáticas globais.
ESCOLHA DO LOCAL E DESAFIOS
A logística para a construção da estrutura e os esforços
empreendidos para viabilizar o projeto foram dignos de uma epopeia. Em 2007, o
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Instituto Max Planck de
Química, da Alemanha, formalizaram a parceria para construir o observatório -
um sonho de décadas.
Foi preciso realizar extensos estudos para escolher o local,
pois, destinada a monitorar o sensível ambiente amazônico, a torre precisaria
ser construída longe de qualquer aglomeração humana. Ela deveria também se
situar em uma área de terra firme da floresta, o que permitiria extrapolar para
todo o bioma os dados obtidos.
Ao longo de sete anos, cientistas, técnicos e operários
percorreram incansavelmente o trajeto que vai de Manaus até o local escolhido
para a torre: depois de 170 quilômetros de estrada até o Rio Uatumã, na região
da Barragem de Balbina, é preciso rodar mais 40 km em estradas de terra, em
carros com tração nas quatro rodas. A partir daí, segue-se um trecho de 65 km
em lanchas até uma trilha de 13 km mata adentro. “Tínhamos de percorrer essa
trilha em quadriciclos, usando um trator para os equipamentos mais pesados. Era
um caminho acidentado e difícil”, contou um dos coordenadores do projeto Atto,
Antonio Manzi, do Inpa.
Em péssimas condições, a antiga trilha precisava ser
restaurada para viabilizar o início da construção da torre. Mas, depois de
longos processos para a liberação dos recursos do projeto - custeado pela
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo governo alemão - a
concorrência pública para restauração da trilha atrasou tanto que se tornou
inviável. “Enquanto isso, seguimos fazendo medições e construindo torres
menores, auxiliares, para não deixar o projeto morrer. Finalmente, a trilha
estava tão degradada que o orçamento para restauração, de R$ 1,1 milhão, seria
triplicado. Tornou-se mais barato construir um novo terminal, de R$ 2 milhões.
Mas aí foi preciso iniciar um longo processo de licenciamento ambiental”, disse
Manzi.
CUSTO TOTAL DO PROJETO
O custo total do projeto foi de cerca de R$ 20 milhões,
incluindo os R$ 7,5 milhões da construção da torre, além de equipamentos e
obras.
COMPLEXIDADE NA LOGÍSTICA DOS EQUIPAMENTOS
Além de duas torres de monitoramento de 80 metros,
construídas a cerca de um quilômetro do local da Atto, foram construídos
alojamentos para 25 pessoas e uma pequena instalação laboratorial no local. Só
em 2014 as fundações da torre Atto foram iniciadas: a estrutura será ancorada
por cabos de aço em blocos que somam 170 metros cúbicos de concreto, com 400
toneladas. Na primeira semana deste mês, a torre começou a ser erguida. Mas,
antes disso, foi preciso transportar por mais de 4 mil km a estrutura do
gigante metálico.
“O projeto da torre foi feito pela empresa paranaense San
Engenharia. Todas as partes de aço da torre, incluindo os cabos de sustentação
e parafusos, foram levados para o local da construção por seis carretas, a
partir de Curitiba”, disse Manzi.
Passando por cinco Estados, as carretas percorreram cerca de
3,1 mil km até Porto Velho. Dali seguiram por mais 200 km até o cruzamento com
a Rodovia Transamazônica, em Humaitá, no Amazonas, onde foram embarcadas em uma
balsa no Rio Madeira. Foram quase 1 mil km de balsa, passando pelos Rios
Amazonas e Uatumã, até que as carretas pudessem desembarcar e pegar a estrada
exclusiva do projeto.
IMPORTÂNCIA CIENTÍFICA DA TORRE
Os pesquisadores não têm a menor dúvida de que a saga
amazônica da torre Atto valerá a pena. Para eles, a importância científica da
torre é tão alta quanto ela. A floresta amazônica é um dos ecossistemas mais
sensíveis do mundo e sua influência na estabilização climática afeta todo o
planeta. Para entender o que acontecerá com o clima mundial no futuro, é
preciso conhecer a fundo os processos físicos, químicos, biológicos e
geológicos do bioma.
“Eu não gosto quando as pessoas falam da torre Atto
atendo-se apenas à comparação do seu tamanho com a Torre Eiffel. O foco não é
esse. A torre nos ajudará a responder inúmeras incertezas em relação às
mudanças climáticas globais”, disse o físico Paulo Artaxo, da Universidade de
São Paulo (USP), outro dos coordenadores da torre Atto, que integra o Programa
de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). “Vamos diminuir as
incertezas e contribuir para aprimorar a representação da Amazônia e outras
áreas tropicais úmidas nos modelos climáticos”, afirmou.
ALTURA DA TORRE
A grande altura da torre, no entanto, traz vantagens
científicas decisivas. O alcance na camada limite da atmosfera permite a
obtenção de um sinal muito estável diante das turbulências e variações nas
massas de ar sobre a floresta. “O programa LBA opera cerca de dez tores de
fluxos de carbono na Amazônia. Elas têm entre 54 e 85 metros. A torre Atto é
muito mais sensível e integrará uma área muito mais extensa de floresta”, disse
Artaxo.
Segundo ele, serão monitorados com precisão inédita os gases
de efeito estufa liberados pela floresta e analisados a radiação solar, o ciclo
hidrológico, as partículas de aerossóis e seus efeitos sobre a vegetação e
sobre os ciclos de nutrientes na floresta. Ela permitirá entender os processos
de convecção, ligados à formação de nuvens na região. “Tudo isso é fundamental
para entendermos se nas próximas décadas a Amazônia continuará a absorver
carbono da atmosfera como faz agora - o que afeta todo o mundo.” Fonte: Estadão-13
Setembro 2014
OPERAÇÃO DO OBSERVATÓRIO SOBRE A FLORESTA
A torre Atto, de 330 m, vai ajudar a compreender
mudanças ambientais no ecossistema
amazônico e seus impactos nas mudanças climáticas globais.
Os técnicos serão treinados para operar a instrumentação
cientifica e usarão equipamentos de alpinismo para segurança.
Elevadores: Seis elevadores, um em cada plataforma serão mecânicos, para
evitar panes elétricas.
Base: Parte dos dados é enviada em tempo real aos laboratórios do
Inpa.
Os dados mais robustos são armazenados em computadores
locais e coletados semanalmente.
Plataforma: A cada 54 m haverá uma plataforma de trabalho, com
instrumentos para estudar química da atmosfera.
Na altura de 137 m
Equipamentos – mais de 30 instrumentos científicos
diferentes vão monitorar continuamente as trocas de massas e energia entre
floresta e atmosfera.
Anemômetro
Mede a velocidade e a direção do vento em três dimensões:
velocidade, direção e temperatura.
Fotômetro
A partir da irradiação solar, calcula a propriedades dos
aerossóis e mede a concentração de vapor d´água na atmosfera.
Higrômetros
Mede a umidade presente nos gases atmosféricos
Neflômetro
Mede concentração de particulados suspensos em um líquido,
para medir a turbidez da água.
Na altura de 200m
Equipamentos – mais de 30 instrumentos científicos
diferentes vão monitorar continuamente as trocas de massas e energia entre
floresta e atmosfera
Piranômetros – mede a densidade de fluxos de radiação solar
com um campo de 180%
Radiômetros – Medem níveis de radiação
Monitor Cônico de oscilação – calcula massa de aerossóis com
alta resolução temporal
Gerador de ponto de orvalho LI-160 – Mede traços de umidade
em gases e líquidos não aquosos
Marcadores: Meio Ambiente, Tecnologia
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