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sábado, julho 13, 2013

Produção de roupa ainda deixa vestígio tóxico em países mais pobres

RESÍDUOS QUÍMICOS
Resíduos químicos usados na produção têxtil podem ser até mesmo cancerígenos. Processo de fabricação elimina resíduos tóxicos nos rios e, depois da compra, o problema se repete em casa, na hora de lavar a roupa.

O impacto da produção de roupas na saúde dos consumidores vai além da aparência. O rastro de poluição deixado durante a fabricação de peças caras é venenoso, denuncia o Greenpeace. "A indústria da moda usa rios como esgoto em todo o mundo", afirma Manfred Santen, que faz parte da organização na Alemanha.

A preocupação do ambientalista se concentra nos produtos químicos usados no processo de manufatura e fabricação das roupas. Muitos dos produtos são cancerígenos ou afetam o sistema hormonal. "Esses químicos acabam despejados pelas fábricas nos rios dos países responsáveis pela produção", explica Santen.

Mais tarde, onde essas mercadorias são comercializadas, mais toxinas são liberadas durante a lavagem das roupas. O problema é globalizado e coloca em risco tanto a água para consumo humano como os peixes. Mesmo que o produto exposto na prateleira não seja tóxico, ele pode ter sido produzido com substâncias perigosas.

Por outro lado, Santen se diz otimista e conta com uma melhora do panorama. Ele acredita que, no futuro próximo, muitas marcas irão produzir camisetas e jeans de forma limpa.

Alternativas menos poluentes podem ter pouco impacto no preço final dos produtos

NÃO EXISTEM MARCAS SEM VENENO
Todas as marcas líderes de mercado usam produtos químicos perigosos. Isso foi provado pelo Greenpeace no ano passado.

ANÁLISE QUÍMICA EM PEÇAS FEITAS
A pedido da organização, laboratórios independentes avaliaram a presença de agentes químicos tóxicos em 141 peças feitas em 29 países. Foram analisadas roupas como calças, jeans, vestidos, camisetas e roupas íntimas vindas das marcas Armani, Benetton, C&A, Calvin Klein, Diesel, Esprit, Gap, H&M, Jack&Jones, Levi's, Mango, Metersbonwe, Only, Tommy Hilfiger, Vero Moda, Victoria's Secret e Zara.

Os resultados deixaram Santen surpreso. "Embora não tenhamos encontrado químicos em todas as peças de roupas, encontramos em todas as marcas", comenta. Ele cita o exemplo da marca Zara. Uma calça feita do Paquistão tinha substâncias cancerígenas derivadas de corantes azóicos. Já em uma jaqueta infantil foi encontrado alquifenol etoxilado, conhecido como APEO. Os fabricantes usam esse produto para a limpeza de fios e roupas.

Essa substância é poluente e especialmente venenosa para os ambientes aquáticos. "Esse fato é conhecido há 30 anos", explica Alex Föller, diretor da organização Tegewa. A entidade representa empresas do setor químico que fornecem produtos usados no processo têxtil para o tratamento e limpeza dos materiais.

Companhias alemãs decidiram voluntariamente suspender o uso de alquifenóis em detergentes industriais em 1986. Em toda a União Europeia, o uso dessas substâncias é estritamente controlado. Desde 2005, os produtos dessa natureza podem ser usados apenas quando não despejados na rede de esgoto. No entanto, no resto do mundo, faltam regras mais rígidas.
Föller argumenta que químicos poluentes como os alquifenóis podem ser substituídos por outras substâncias não-venenosas. Ele assegura que existem alternativas que não geram nenhum tipo de produto perigoso que possa envenenar peixes.

MODA QUÍMICA
O Greenpeace acusa as cadeias de moda de oferecerem produtos que usam desnecessariamente químicos poluentes em seu processo de fabricação. As empresas reagiram às alegações. Desde 2011, quando a organização  começou a campanha Detox, empresas como Adidas, Nike e H&M e outras grandes 17 marcas assumiram o compromisso de abandonar químicos poluentes em suas cadeias produtivas até 2020. A Zara anunciou que desde maio deste ano já não usa mais alquifenóis no processo de fabricação das suas roupas.
O Greenpeace apela aos fabricantes para que cumpram suas promessas. "Nós queremos saber exatamente quando e qual químico cada cadeia de loja deixou de usar", afirma Santen. A organização quer controlar de perto as mudanças.
O ambientalista sabe, porém, que as promessas geram grandes desafios. "Geralmente, as empresas não sabem o que e onde outras empresas da cadeia produzem para a marca." Esta situação é ainda mais comum nas chamadas marcas de fast-fashion, como H&M e Zara. Essas marcas lançam constantemente novas coleções, com curto intervalo entre criação, produção e venda nas lojas.

DIFICULDADE NA CADEIA DE FORNECEDORES
Por trás disso está um grande esforço de logística, "o que dificulta que se tenha uma visão completa de cada produto têxtil fabricado", explica. O problema está na complexidade da organização da cadeia de fornecedores. O representante do setor, Alex Föller, dá um exemplo. "Uma empresa têxtil tem, talvez, 100 ou 200 fornecedores diretos na China, Paquistão e Bangladesh que produzem o material que será usado posteriormente na confecção."
Föller explica que esses fornecedores, por sua vez, compram os químicos que precisam para o processamento dos produtos têxteis de diferentes empresas e que muitas delas são empresas familiares. “Caso algum fornecedor falhe, um cunhado ou um primo passa a fornecer os produtos químicos”, exemplifica. No final, não há uma visão geral do processo.

QUÍMICOS LIMPOS NÃO SÃO CAROS
Föller acredita que a substituição dos químicos poluentes por outros mais limpos não deve pesar no bolso de quem compra uma calça ou uma camiseta. O controle é que pode custar caro. As empresas devem fazer ao menos testes por amostragem para verificar o que seus fornecedores estão usando, sugere. Para isso, Föller tem uma alternativa. "Os fornecedores devem saber que correm o risco de serem expulsos do sistema de produção se violarem as orientações."
 Químicos prejudiciais ao meio ambiente são usados no beneficiamento de fios e tecidos

A indústria automobilística mostra que esse tipo de ameaça costuma funcionar. Há anos os fornecedores devem garantir que seus produtos não possuam substâncias venenosas ou vestígios delas. O mesmo vale para os fornecedores das capas dos bancos dos automóveis, explica Hans Pfeil. Ele coordena o departamento de Toxicologia da Ford, em Colônia. "Se descobrimos que nossas exigências não estão sendo cumpridas, esclarecemos a situação com rigor", ressalta.

Ele explica que se o fabricante não conseguir apontar a fonte do problema, ele não poderá mais fornecer para a empresa. A ameaça surtiu efeito. As capas de banco usadas pela Ford podem conter apenas vestígios dos poluentes aquifenóis. Antes de a parte têxtil chegar na montadora, ela é lavada para eliminar os químicos poluentes. Outra alternativa é usar elementos substitutos não-venenosos.

Para o Greenpeace isso não é o bastante. Se os químicos poluentes forem eliminados de vez da cadeia produtiva, então rios de Bangladesh, China e Vietnã ficarão mais limpos, e a saúde do consumidor final correrá menos risco. No entanto, o exemplo da indústria automobilística deixa claro que mesmo grandes cadeias produtivas podem ser controladas.
Fonte: Deutsche Welle - Data 10.06.2013

1-As formulações que contêm etoxilatos de nonilfenóis (NPEs) e outros produtos químicos são entregues aos fabricantes de produtos têxteis para utilização como surfactantes.

2- As normas permitem descargas de águas residuais de NPEs  que decompõem em nonilfenóis persistentes, bioacumuláveis e  desregulador hormonal (NPS) em rios.

3-NPEs acumulam em sedimentos e podem acumular-se na cadeia alimentar, como em peixes.

4- Exportadores globais entregam roupas contendo níveis residuais de NPEs ao mercado, mesmo quando estes produtos químicos são proibidos na fabricação de roupas.

5- Na lavagem libera NPEs nas  instalações de tratamento de água.

6- O tratamento de água é geralmente ineficaz para tratar com NPEs e acelerando a sua decomposição em nonilfenóis tóxicos (NPS)

7-Desregulador hormonal NPs acaba  em sistema aquático, mesmo em países onde o uso do composto base (NPEs) é proibido.

Comentário: Histórico dos problemas
1-Em 2012, jeans e camisetas da Levi's foram encontrados produtos tóxicos e de desregulação hormonal, que também estão sendo despejados nas águas do México , onde se encontram muitos fornecedores da marca.
2-Em 23/08/2011, Greenpeace encontra resíduos tóxicos em roupas de grife da China
Resíduos de produtos químicos perigosos tanto para o meio ambiente quanto para a saúde foram encontrados em produtos de 14 grandes marcas de roupa, denunciou nesta terça-feira a organização ambientalista Greenpeace em seu relatório "Roupa suja 2".
Análises em amostras de roupa de marcas como Adidas, Uniqlo, Calvin Klein, H&M, Abercrombie & Fitch, Lacoste, Converse e Ralph Lauren evidenciaram a utilização de produtos químicos conhecidos como nonilfenóis-etoxilados em sua fabricação, alertou a organização.
O nonilfenol etoxilado, comumente usado em detergentes industriais e na produção de têxteis naturais e sintéticos, foi detectado em dois terços das amostras analisadas.
O nonilfenol etoxilado tem propriedades tóxicas, persistentes, e causa transtornos hormonais.
Ele mimetiza os hormônios femininos, altera o desenvolvimento sexual e afeta os sistemas reprodutivos.Aos componentes deste produto químico se deve a estendida "feminização" de peixes machos em partes da Europa, bem como transtornos hormonais em alguns mamíferos, segundo a WWF, outra organização protetora da biodiversidade.
O Greenpeace informou ter comprado 78 peças de roupa destas marcas, a maioria fabricada em China, Vietnã, Malásia e Filipinas e em outros 18 países, e as submeteu a testes científicos. Fonte: Exame

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