Nas rodovias, 14,7 milhões de bichos são atropelados a cada ano
A cada minuto, 28 animais são atropelados nas
estradas brasileiras. Carros, motos e caminhões retiram a vida de 14,7 milhões
de bichos por ano (40,8 mil a cada dia), de acordo com estimativas de
especialistas. É um massacre que, muitas vezes, sequer é percebido pela maioria
dos motoristas. Como a quantidade de rodovias monitoradas no país é reduzida, a
estimativa é que essas estatísticas estejam subestimadas.
Nos
Estados Unidos, onde o controle é bem
mais rigoroso, os números são cerca de 25 vezes maiores: 365 milhões de animais
mortos por ano (um milhão por dia).
ATROPELAMENTO
A
principal causa direta de mortalidade de animais vertebrados no Brasil é o
atropelamento, ressalta o biólogo Rodrigo Santos, analista ambiental do
Instituto Brasília Ambiental (Ibram, órgão executor de políticas públicas
ambientais e de recursos hídricos no Distrito Federal). Desde 2010, ele faz
parte do grupo que monitora as estradas que passam perto de cinco unidades de
conservação do DF. De abril daquele ano até setembro último, os especialistas
do projeto Rodofauna observaram 2.324 animais mortos em 25.170 quilômetros
percorridos. A grande maioria (86,4%) foi de animais silvestres.
É
notório o atropelamento de propósito, principalmente de cobras, muitas vezes no
acostamento. Esse comportamento é cultural no país: tem que matar bicho, afirma
Santos. É raro, mas, às vezes, conseguimos encontrar os animais ainda vivos. Há
pouco tempo resgatamos uma fêmea de gambá ou saruê. Ela tinha quatro filhotes,
um deles sobreviveu e acabou sendo encaminhado para o centro de triagem. Mais
do que criar as bases estatísticas da mortandade de animais atropelados, os
pesquisadores do Rodofauna estão mapeando os pontos de maior incidência do
problema. As informações vão municiar o relatório que está em fase de
conclusão. Vamos propor medidas mitigadoras, como, redutores de velocidade, diz Santos.
A enorme
quantidade de bichos mortos em rodovias mostra o tamanho do desafio dos
pesquisadores que pretendem diminuir os atropelamentos. O impacto ambiental já
começa com a própria construção da estrada, que se transforma em uma barreira
impedindo ou dificultando a circulação dos animais. Quanto mais preservada for
a área cortada pela via, mais grave é o problema.
SUPRESSÃO
DE FLORESTAS
Por
outro lado, a contínua supressão de florestas, que abrigam os animais
silvestres, seja por conta do crescimento das cidades ou por qualquer outra
atividade, aumenta a necessidade de circulação deles não apenas para buscar
alimentos, mas também para encontrar abrigo e mesmo parceiros. Quando, no meio
do caminho dos bichos, há rodovias, o risco de acidentes é alto, sobretudo num
país de dimensões continentais que adotou a rodovia como principal meio de
transporte tanto de pessoas quanto de cargas. E que continua abrindo novas
vias, como as que foram previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC).
Trata-se de um fenômeno que, individualmente, vemos apenas parcialmente: um
bicho morto aqui, outro acolá. Entretanto, quando computados em sua totalidade,
os números são realmente impressionantes, ressalta o biólogo Mozart Lauxen,
que lida com este problema nos processos de licenciamento ambiental de rodovias
que passam pelo Ibama, onde trabalha como analista ambiental há nove anos.
IMPACTO
AMBIENTAL
Por
exemplo, quando há a decisão de construir uma rodovia, é necessário identificar
e mensurar seu impacto ambiental. Se a estrada causa a fragmentação de uma área
de floresta, é importante analisar a possibilidade de traçados alternativos,
que desviem as vias de regiões ambientalmente importantes.
Outro
caminho é a mitigação do dano, que pode ser feita lançado-se mão de uma série
de ferramentas, como a exigência de construção de estruturas de passagem de
animais, tanto por baixo da pista como por cima.
EXEMPLO
DE PASSAGENS PARA ANIMAIS
Duas
dessas passagens foram instaladas na BR-040, que une o Rio a Juiz de Fora, em
Minas Gerais. Exceção brasileira, a via tem seus 180 quilômetros monitorados
desde 2007 pela equipe da bióloga Cecília Bueno, professora da Universidade
Veiga de Almeida.
A
biólogo conta com o apoio da concessionária que administra a via, qualquer
atropelamento de animais silvestres é registrado pelo projeto Caminhos da Fauna
nos sete dias da semana, 24 horas por dia. A Concer não só banca os custos como
mobiliza os operadores de trânsito, que atuam em tempo integral e, depois de
passar por um treinamento, documentam cada caso.
Mapeamos
os pontos mais críticos, onde os animais circulam mais. Isso geralmente
acontece em locais próximos de unidades de conservação ou em áreas de campo. A
partir desta informação, é possível implantar medidas para reduzir os
atropelamentos. Na Baixada Fluminense, por exemplo, colocamos uma tela ao longo
da pista e conseguimos reduzir a praticamente a zero o número de casos. Houve
apenas um, porque a tela se rompeu, ressalta Cecília.
Medidas
simples podem surtir grande efeito. Alguns animais, porém, conseguem superar os
obstáculos. As aves geralmente acessam a rodovia por cima. Outro problema é a
ocupação desordenada das áreas às margens das estradas. É uma situação
assustadora e o pior, é que não podemos colocar telas e barreiras onde há
pessoas circulando.
Apesar
de tanto esforço, todos os dados gerados por este e por outros projetos de
monitoramento, não são aproveitados por
um banco de dados brasileiro.
LICENCIAMENTO
DE NOVAS CONSTRUÇÕES
Para
orientar o licenciamento de novas construções, especialistas estão analisando
as diferenças entre os impactos de pistas de terra em comparação com as
asfaltadas. Também há estudos comparando as vias duplicadas das simples, além
da eficácia das passagens para animais.
Há muito mais atropelamentos nas ruas
asfaltadas e duplicadas; o tráfego nas pistas de terra é muito menor. Também é
necessário analisar o local da estrada: quanto mais preservada a floresta,
maior o impacto. A velocidade é outro fator importante, assim como os
dispositivos de controle dos limites da pista. Alguns trabalhos falam que redutores
de velocidade diminuem a incidência dos atropelamentos, enumera Rodrigo Santos,
analista ambiental do Ibram. Há especialistas que criticam a estrada-parque
porque nessas regiões o fluxo de animais é grande.
Além
disso, a estrada corta essa passagem de bichos, diminuindo a viabilidade das
populações dos animais, principalmente os menores, com deslocamento mais curto.
Tudo isso acaba influenciando o impacto da rodovia; sem falar no possível
aumento da erosão.
POLUIÇÃO
SONORA
O
barulho dos motores é outro aspecto que preocupa os especialistas. Há trabalhos
que tentam relacionar as taxas de reprodução de anfíbios com a poluição sonora.
Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a arquitetura de boa parte das
novas estradas já precisa prever áreas de passagens para animais. Em alguns
casos, as zoopassagens se misturam com a floresta ao redor.
A
bióloga Sandra Jacobson, que trabalha na agência florestal americana (USDA
Forest Service), afirma que estes caminhos para bichos muitas vezes são as
únicas maneiras de reduzir a mortalidade de algumas espécies nas proximidades
das rodovias.
Dois
impactos são os maiores problemas das rodovias;
■O maior
deles é a barreira aos animais selvagens, que não podem se mover livremente
pelas estradas. Os bichos, como as pessoas, precisam buscar alimentos,
parceiros e abrigo. A fragmentação do habitat muitas vezes torna impossível a
sobrevivência dos animais, analisa a especialista americana.
■ O
segundo maior impacto é a mortalidade causada pela colisão dos animais com os
veículos. Como se observa, este problema ocorre em todo o mundo e pode causar
sério declínio em algumas populações de animais.
O custo
destas passagens para animais, porém, pode inviabilizar a construção delas em
alguns casos, salienta Sandra. Apesar de eficazes, as zoopassagens são caras e
não resolvem todos os problemas ambientais. É melhor ter menos estradas que
sejam muito bem desenhadas e com mais tráfego do que muitas rodovias com menos
carros. Fonte: Globo - 27/11/12
Marcadores: Meio Ambiente
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